domingo, 28 de fevereiro de 2010

DOMINGO NO PARQUE - Os Monkees

Todo domingo vamos botar aqui uma espécie de sessão nostalgia relembrando good times da TV e da infância:
OS MONKEES

Por Ricky Nobre
Quem gosta de seriados costuma carregar a fama de ser saudosista. Bom, alguns são. Saudosista é aquele sujeito que acha que tudo que se fazia antigamente prestava e que hoje em dia ninguém sabe fazer nada. No que se refere a seriados, não temos do que nos queixar. Tem muita coisa boa por aí. Mas na música... Eu não consigo mais ouvir rádio, e você? Não que não tenha nada de bom, mas dá um trabalho pra encontrar...! Bom, você que sabe do que se trata a matéria já está se perguntando: "Esse cara tá querendo dizer que Os Monkees são Os Beatles por acaso?" É claro que não! E é aí que eu quero chegar. Os Monkees são um grupo pré-fabricado, unido por produtores que queriam fazer um seriado de humor com música. Nada de amor à música ou à arte. Eles foram criados para dar dinheiro. E os caras eram bons!

Em 1966, o diretor e roteirista Bob Rafelson e o produtor Bert Schneider idealizaram uma série de TV de humor anárquico protagonizado por quatro rapazes cabeludos que formavam a banda de rock que embalaria a trilha sonora. Não, não era uma idéia de gênio, mas a base do primeiro sucesso dos Beatles no cinema, o filme Hard Day´s Night. Pois é, tudo se copia. Após uma cuidadosa seleção, chegou-se aos quatro rapazes amalucados: Micky Dolenz, Mike Nesmith, Peter Tork e Davy Jones. Todos eram músicos e já trabalhavam profissionalmente. Semanas antes da série entrar no ar, foi lançado um álbum para ajudar a promover a série. O sucesso, porém, foi tamanho que a situação se inverteu. O que hoje pode soar banal, foi um choque: a série é que passou a promover o disco. Vários singles atingiram o topo da parada da Billboard rapidamente e a série e as vendas do álbum dispararam. As críticas vieram meteóricas, principalmente pelo fato de que o grupo não tocava no disco. Como os episódios tinham que ser produzidos rapidamente, era muito mais prático gravar o instrumental com músicos de estúdio enquanto os rapazes filmavam e enquanto o episódio era montado eles gravavam os vocais. Essas versões foram as utilizadas no disco e não havia uma banda de rock no mercado que não odiasse os Monkees. Eles não tocavam, não compunham, tinham uma indústria por trás deles e eram os número um!

Mas eles sabiam quem eram. A própria publicidade da banda os vendia como os pre fab four. Como os Beatles eram os fab four (os quatro fabulosos), os Monkees tanto podiam ser pretensiosamente anteriores aos Beatles ou "os quatro pré-fabricados". Como eram músicos de verdade e o sucesso foi estrondoso, Os Monkees davam o seu primeiro concerto ao vivo apenas três meses após a estréia da série. Isso não serviu para calar a boca dos críticos, mas o que realmente irritou o grupo veio do próprio estúdio. O segundo álbum, "More From The Monkees", foi lançado sem o conhecimento da banda, que não apitou em nada. Eles fizeram um escarcéu e exigiram maior controle criativo no material que era lançado no mercado. Nesta altura, eles já compunham mais para a série, mas ainda não tocavam. Tanto perturbaram que poucos meses mais tarde eles lançaram seu terceiro álbum finalmente tocando pela primeira vez. Na série, porém, ainda usavam músicos de estúdio por questões práticas.



Tá, mas e a série?
Como foi dito, a grande inspiração foi o filme dos Beatles, que já preparavam outra doideira chamada Help! Mas isso não tira a originalidade da série nem o mérito de ter criado uma nova linguagem televisiva e um novo padrão de marketing. A abertura já dava o recado. O grupo em situações surreais entrecortadas por rápidas cenas da banda tocando (na segunda temporada já incluíram cenas da banda nos concertos ao vivo) numa montagem alucinante. Desde o cinema russo dos anos 20 não se via uma edição tão ágil. Era uma boa mostra de como eram os episódios. As situações em que se metiam os heróis eram totalmente non sense, as piadas eram disparadas num ritmo vertiginoso e a falta de propósito e pertinência era total! O tipo de humor e de timing era muitíssimo adiantado para a época, sendo bem mais reconhecível na linguagem de TV atual. Não que fosse algo totalmente novo nesse sentido. Os Irmãos Marx criaram o estilo na década de 30, mas ficou tanto tempo esquecido que parecia novidade. Ainda mais situações absurdas ao som dos sucessos do grupo eram obrigatórias em cada episódio, que sempre tinha duas músicas. A série dos Monkees é considerada por muitos a precursora do modelo de video clip e até mesmo de toda a linguagem MTV. O reconhecimento veio não só pela resposta do público mas com o Emmy de melhor série cômica de 1967 e de melhor direção para James Frawley pelo episódio Royal Flush.

Mas a festa não durou muito. O interesse do público pela série caiu rápido e só durou duas temporadas, encerrando-se em 68. Nesse mesmo ano foi lançado nos cinemas o primeiro e único longa-metragem dos Monkees, Head (Os Monkees Estão Soltos), mas não serviu para reacender o interesse pelo humor anárquico do grupo. Escrito por Bob Rafelson e Jack Nicholson, o filme é um amontoado de maluquices bem ao estilo da série, mas com uma intenção a mais. O grupo, que colaborou bastante no roteiro mas não foi creditado, parecia querer retratar a frustração de ter sido arremessado para a fama e arrancado dela por "forças superiores" e da falta de reconhecimento de seu talento. Com participações de Jack Nicholson, Dennis Hopper, Victor Mature e Frank Zappa (no papel de um crítico!), Os Monkees Estão Soltos era figurinha fácil na Sessão da Tarde na década de 70. Quem aí se lembra de Micky chutando uma máquina de Coca-Cola no meio do deserto?

A banda continuou lançando LPs. Só entre os anos de 66 e 70 foram nove álbuns, mas isso também não durou muito. Sem o apoio do estúdio e sem um único amigo na indústria fonográfica, o grupo não teve condições de continuar e não teve outra alternativa que não se dissolver. Os Monkees permaneceram no limbo até 1986, quando a MTV pareceu carimbar e assinar embaixo da teoria de que a banda inspirou a emissora. Durante uma maratona de 24 horas, as duas temporadas completas da série foram exibidas em rede nacional arrebatando toda uma nova geração de fãs. Três dos membros da banda, Peter, Micky e Davy, voltaram a se reunir, iniciaram uma turnê e gravaram um novo disco. Mike preferiu continuar seus projetos particulares, apesar de ser creditado como um dos idealizadores da MTV. Na década de 90, uma outra onda Monkee fez seu estrago. Comemorando os 30 anos do grupo a Rhino relançou a discografia completa da banda e Mike aceitou se reunir aos outros três para um novo CD, Justus, e uma turnê. Foi um delírio para os fãs, que não viam isso desde 1970.

Os Monkees talvez não tenham como negar a acusação de terem atingido "fama fácil". Mas lidar com essa fama não foi moleza. Sentiram a crueldade do mercado que com a mesma facilidade que os colocou no topo os tirou de lá. Mas eles não passaram a vida reclamando. Dedicaram-se a seus projetos pessoais, lançando álbuns solo ou enveredando para a direção ou literatura, aproveitando também cada oportunidade de trazer de volta a magia do grupo, sempre que uma nova geração de garotos conseguia, em algum canal a cabo perdido por aí, descobrir e se retorcer de rir com uma das melhores coisas que já aconteceram para a televisão.

2 comentários:

Renato Rodrigues disse...

se é um box que se sair aqui.. EU QUERO!

GM Soares disse...

Cara, muito boa a reportagem, foi completa, parabéns