terça-feira, 23 de junho de 2009

Filme do "ELO PERDIDO" direto pra DVD

por Renato Rodrigues

Nem Will Ferrel salvou a bilheteria de A Terra Perdida (Land of The Lost), o filme baseado da série setentista Elo Perdido.

Depois do resultado morno nas bilheterias dos EUA, onde não chegou nem na metade dos 100 milhões que custou, os distribuidores optaram por lançar aqui no Brasil (outra terra perdida) direto pras locadoras e mesmo assim lá por fim do ano.

Também, na boa, a série podia nem ser lá essas coisas (Eu gostava, mas era ruim...), mas o trailer já mostrava que não tinha nada a ver com nada. O filme traz um fracassado cientista (Will Ferrell), desacreditado publicamente, que embarca em uma expedição a uma terra perdida que prova todas as suas insanas teorias.

Cadê a família da série original? Mas pelo menos tem os sinistros Sleztaks...

Abaixo o trailer pra você conferir. Divertido... MAS NÂO É A MAMÃE!
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O SUPER HERÓI AMERICANO - Acredite ou não... ele pode pode voltar!

por Renato Rodrigues


Stephen J. Cannell (criador e produtor da série) deu esperanças de um sim. Cannel declarou que tanto já escreveu o roteiro, como contratou um diretor. Os atores da série original devem participar com papéis importantes e espero que retomem de onde a série parou, seria melhor do que ver um novo Ralph Hinkley. Não sabe do que estamos falando? Você nasceu ontem? Leia a matéria abaixo e relembre.

A SÉRIE
Muito antes de Mulder e Scully andarem por aí atrás de discos voadores, um certo professor já tinha feito contatos (prá lá de terceiro grau) com seres de outro planeta. Esse professor era Ralph Hinkley (Willian Katt), O SUPER HERÓI AMERICANO, seriado esquecido em alguma prateleira empoeirada do SBT, que divertiu uma pá de fãs por três temporadas com sua proposta leve e despretensiosa.

ABERTURA PRA REFRESCAR A MEMÓRIA


Felizmente cada cavaleiro tem o escudeiro que merece e o inepto herói tinha como mentor e parceiro Bill Maxwell (Robert Culp), agente do FBI (Como gostava de se identificar quando esfregava sua insígnia na cara de todo mundo!), que personificava justamente o seu inverso. Era temperamental, cínico e adorava bancar o tira “durão”. As constantes discussões éticas sobre o uso de tais poderes além de divertirem o espectador mostravam os dois ou mais pontos de vista de cada situação.Se Ralph era a cautela e Bill a impetuosidade, Pam Davidson (Connie Selleca) representava o bom senso, contrastando com a absurda idéia de se lutar contra o crime por aí com roupas apertadas e dando de cara com paredes. Como Bill, ela também sabia usar o sarcasmo a seu favor. Namorada de Ralph e depois sua esposa, Pam completava o trio mantendo-o coeso e enchendo de charme cada capítulo da série.Veja abaixo a abertura:
SUPER HERÓI AMERICANO era mais que um simples “seriado de super herói”. Posso arriscar dizer, sem o acompanhamento do Hino Americano, que Ralph, ajudado por seus inseparáveis parceiros, representava um misto de triunfo da natureza humana sobre o inesperado e uma teimosia quase insana em acertar a cada derrocada. Ele, assim como o Coiote do Papa-léguas, vivia para cair, sacudir a poeira e dar a volta por cima (literalmente) enquanto tentava aprender a usar todos aqueles fantásticos super poderes.
Forcei a barra? Talvez, mas é um bom ideal de vida, não é não?

Ralph era um professor e tanto. Mas o salário, ó!...



Curiosidades curiosas:
- “The Greatest American Hero” foi ao ar nos EUA em três temporadas 1981/83, com um total de 45 episódios. Aqui passo no SBT (na época TVS). Sua dublagem, feita pelo saudoso Marcelo Gastaldi, é lembrada até hoje.


- O tema Believe It or Not”(Composto por Mike Post e cantado por Stephen Geyer) alcançou o segundo lugar na preferência musical em 1981. Além disso o seriado era recheado de sucessos da música pop.

- Stephen J. Cannel, criador da série, é também um Midas entre os produtores de seriados nos States. O camarada é responsável por Esquadrão Classe-A, O Homem da Máfia, Anjos da Lei, O Renegado e mais uns trocentos outros seriados.

- Em 86 foi gravado um piloto para uma continuação da série, chamado “THE GREATEST AMERICAN HEROINE”, onde a identidade de Ralph era exposta ao público, obrigando-o a passar a super-roupa e a responsabilidade para uma jovem chamada Holley Hathaway. Bill ajudaria a moça a combater o crime como fizera com Ralph. O piloto não chegou a emplacar um série, mas está presente no Box dos DVDs americanos e faz parte da cronologia da série.

- Willian Katt fez participação especial na série Heroes.

- Visite o curioso site
http://www.tgah.com/ que traz web-episódios da série aparentemente filmado por fãs.

- Pra terminar, um clipe que vale a pena ver:


segunda-feira, 22 de junho de 2009

O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO não salva nem a si mesmo.


Quando James Cameron, forjado no calor da batalha dos filmes B de Roger Corman, realizou seu primeiro longa metragem, ele provavelmente não imaginava que estava criando um dos maiores ícones do cinema de ficção científica, por mais que seu enorme ego sugira o contrário. Em 1984, com apenas 6 milhões de dólares, Cameron escreveu e dirigiu O Exterminador do Futuro, um absoluto triunfo em todas suas facetas, sejam técnicas ou artísticas. Sete anos mais tarde, veio a continuação, onde Cameron expandiu enormemente a abrangência de seu universo, não apenas com um orçamento nada menos do que 15 vezes maior que o anterior, mas principalmente com um rico roteiro que transformou esses dois filmes numa peça mítica. Se o primeiro filme mostrava a transição de uma simples e tola garçonete na mãe que forjou o salvador da humanidade, o segundo mostrava como seu filho passou de delinqüente juvenil ao herói lendário. Mais doze anos se passaram até que a terceira parte fosse produzida, sem nenhuma participação do criador original. Rendeu rios de dinheiro apesar das pesadas críticas dos fãs, mesmo que Cameron tenha dado seu aval à produção depois de pronta. Nela, o fim do mundo se mostra inevitável e John Connor finalmente aceita seu papel de líder da resistência contra as máquinas.


Então uma quarta parte foi anunciada. A primeira sem o grande astro Arnold Schwarzenegger, no momento bastante atarefado governando a Califórnia. Como assim um filme do Exterminador sem o exterminador?? Bom, os filmes nunca foram sobre o exterminador. Foram sobre Sarah, John e Reese. Sobre as pessoas comuns que se tornaram heróis. Terminator: Salvation seria, finalmente, um filme sobre John Connor liderando a resistência. Sobre a guerra que tanto os homens quanto as máquinas tentaram evitar nos filmes anteriores. Sobre como Connor conheceu aquele garoto, mais novo que ele, que deveria ser seu pai, e sobre a força que ele tirava dos conselhos que a mãe gravou em fita cassete quase 35 anos antes.

Não tinha como dar errado.

Mas todos sabemos como projetos maravilhosos podem se transformar em tragédias. Basta escolher o diretor errado, o roteiristas errados e somá-los a um estúdio cheio de más intenções. McG, diretor de videoclipes que ganhou fama com os dois filmes das Panteras, não soava como um nome sério o suficiente para um projeto desse porte. Já os roteiristas John Brancato e Michael Ferris eram uma incógnita. Num extremo, o roteiro do excelente Vidas em Jogo, de David Fincher. No outro, Mulher Gato, filme que dispensa comentários. No meio, o roteiro do próprio Exterminador 3, que tinha defeitos mas era bastante razoável. Qualquer coisa poderia sair dali, portanto. Quanto às intenções do estúdio... bom, é só ver o filme em seus piores momentos.



Inicialmente algo que não deveria ser um problema, é preciso, entretanto, destacar logo de cara a censura do filme. É o primeiro da série com classificação PG-13 (13 anos), enquanto três filmes anteriores foram R (17 anos). Isso amplia o público do filme nos cinemas, nessa época de intensa pirataria virtual. Mas a verdadeira intenção de baixar a censura do filme parece ter sido, simplesmente, a venda de brinquedos. Terminator: Salvation é infestado das mais variadas formas de exterminadores e alguns são veículos quase infantis como o moto-terminator. Quando aparece o “transforminator”, um robô gigante pegando a onda do sucesso infanto-juvenil de Michael Bay, já fica claro que nada mais sério seria possível esperar do filme.

Ok, vamos voltar ao que interessa: os personagens. Christian Bale assume o papel que foi de Nick Stahl no filme anterior, onde interpretou um Connor totalmente equivocado, sendo, sem dúvida, o pior erro do terceiro filme. Desta vez, Bale aposta no que faltou no protagonista anterior: intensidade. Mas tanta, tanta intensidade, que erra a mão e John Connor parece apenas um cara que fica nervoso o tempo todo. Não é só culpa dele. O roteiro não aposta em seu personagem principal. Suas cenas parecem soltas, limitadas ao extremamente essencial para a progressão da história. Pelo menos metade do tempo é dividido com Marcus Wright (Sam Worthington), um assassino condenado em 2003 que acorda no futuro devastado sem ter idéia do que está acontecendo. Conforme conhecemos os reais fatos, percebemos que é um filme com dois protagonistas e a relação forjada entre eles é uma citação muito bem sacada aos filmes anteriores. Diversos outros elementos da história são muito bem pensados, detalhes que parecem furos são explicados de forma muito convincente nos momentos certos, mostrando que Salvation tem, de fato, uma história muito boa. O roteiro, porém é muito mal executado e, afogado no mar de apelações comerciais já citadas, fica ainda mais frágil. Roteiristas e diretor mostram sua reverência aos filmes originais com diálogos, imagens e músicas, com resultados que vão desde o banal até um momento específico que é capaz de fazer qualquer fã dar cambalhotas de alegria no cinema.



Infelizmente, nenhuma de suas qualidades é suficiente para suprir os verdadeiros furos do roteiro ou compensar a pseudo intensidade emocional do filme. Diversos episódios do excelente seriado The Sarah Connor Chronicles dão um banho nesse filme milionário que, apesar de ótimas cenas de ação e efeitos especiais sublimes, não consegue tocar a profundidade dos diálogos e interpretações de, por exemplo, Thomas Dekker, o John Connor de 15 anos perfeito revelado pela série.

Terminator: Salvation é uma história com excelente potencial que se tornou filme frágil, apelativo, barulhento e ralo. McG não possui o menor preparo para lidar com os aspectos dramáticos de um filme que parece mais interessado em vender brinquedos. Não chega a ser inassistível, porque a ação é bastante divertida e a produção é impecável. Mas está longe de ser um herdeiro digno das obras primas de James Cameron.

Nota: 2/5
Terminator: Salvation
Diretor: McG
Roteiristas: John Brancato e Michael Ferris
Com: Chistian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard, Helena Bonham Carter

domingo, 21 de junho de 2009

TIME DE OURO FAZ “HOMEM DE FERRO”

por Patrícia Balan


O primeiro filme dos estúdios Marvel já veio com uma boa notícia: os estúdios Marvel!!! Agora os sonhados crossovers, interação entre personagens de filmes diferentes, já é um sonho muito mais próximo. Infelizmente não há como saber qual a possibilidade de interação com personagens tão adorados como os X-men e o amado amigo da vizinhança. Fox e Sony não são estúdios considerados fáceis de se lidar.

Depois de muitos acidentes de percurso, “Homem de Ferro” não poderia ter aterrizado em melhores mãos. Tom Cruise, que sempre foi um fã confesso do herói, estava com as garras em cima do personagem mas caiu fora por não concordar com a maneira como o projeto estava sendo desenvolvido. Se ele tinha idéias inovadoras para o “Homem de Ferro” da mesma maneira que inovou “Missão Impossível”, nós fãs escapamos de boa. Homem de Ferro é inovador sim, mas em nenhum momento perdeu sua identidade. Mesmo com as reviravoltas doidas dos roteiros de quadrinhos a trajetória de Tony Stark está muito reconhecível.

O filme começa com uma pequena viagem de negócios tendo conseqüências desastrosas. Tony Stark está promovendo seu mais recente produto para “apavorar os caras maus”. Até este momento no filme Tony Stark é o homem dos sonhos de George Bush, mas isto está prestes a mudar. Logo o “mercador da morte” provará um pouco de seu próprio remédio. O cenário da origem do Homem de Ferro mudou do Vietnã para o Afeganistão. Mesmo com este contexto o filme passa longe da crítica política. Ela só está lá para quem está disposto a vê-la – como um bom e velho roteiro Marvel.


O filme tem suas explosões, efeitos e brigas, mas o roteiro é muito interessante com uma narrativa não linear. A Marvel não teve tanto medo de perder o público infantil quanto teve respeito pelos fãs adultos do personagem. Tudo bem, pode ser dito que este foi um filme também para os pais dos espectadores, mas esse papo já está velho! Os fãs quarentões de quadrinhos não precisam mais se esconder de vergonha. Está na cara que nós estávamos certos quando torturávamos o jornaleiro até o exemplar chegar na banca. Nossas histórias tão queridas sobreviveram dez, vinte, trinta anos... Estávamos certos!!

Certo também estava Jon Favreau – o ator que fez Franklin Nelson em Demolidor – ao passar para trás das câmeras e escolher Robert Downey Jr. como Tony Stark. Com Downey no barco foi bem mais fácil conseguir Gwyneth Paltrow, Jeff Bridges e Terrence Howard. Preste atenção nestes nomes: todo mundo aí tem indicações ao Oscar ou já tem um em casa. Hollywood já aprendeu que não adianta nada escalar um ator “parecido” com o personagem. Deixe os bons atores trabalharem e eles vão se transformar exatamente no que precisam ser.

Um bom roteiro, coadjuvantes excelentes – até o próprio Favreau fazendo pontinha como o motorista Happy Hogan – foram importantes para o sucesso do filme, mas seria injusto não dar o destaque devido a Robert Downey Jr. Ele deve ter enchido suas falas de “cacos” como todo bom ator e mesmo assim Tony Stark está todo lá – mais simpático, mais jovial, mais irresponsável e mais genial ainda do que sempre foi.

Mesmo com toda genialidade do personagem o filme humaniza um pouco mais Tony Stark mostrando que ele não poderia prever todas as conseqüências de ter uma armadura como aquela em casa. Justamente por isso a armadura do Homem de Ferro em sua versão final aparece pouco. Essa é uma reclamação justa dos fãs, pois a armadura ficou muito legal mesmo! Mas tenha um pouco de paciência porque os momentos que vão das primeiras experiências até a versão final da armadura são verdadeiras pérolas. Tudo bem, pode ser que falte Homem de Ferro, mas Tony Stark está muito presente.

Não há menção sobre ele ser alcoólatra, não há desenvolvimento do fato de ele ter crescido sob a sombra do pai e não conhecemos muito sobre Tony enquanto ele concordava em gênero, número e grau com tudo o que Obediah Stane (vulgo Monge de Ferro) decidia em sua empresa. Mesmo assim essa profundidade do personagem fica implícita. A explicação para isso é justamente Robert Downey Jr.


Ele foi muito generoso com seu personagem e fez muito mais do que trabalhar o corpo até ficar “enxuto”.
Ele faz doações preciosas: seu próprio passado auto-destrutivo, as experiências das quais ele não se orgulha muito e a alma de rebelde. Estes elementos estão por baixo da interpretação, nas entrelinhas.
Só mesmo um excelente ator para fazer isso tudo transparecer por sua pele lindamente – em ouro e vermelho!

Ps. Assim como um Ps. em uma matéria, alguns filmes ainda têm algo a dizer depois dos créditos, tá gente!? NÃO QUE OS CRÉDITOS NÃO MEREÇAM ATENÇÃO! Aqueles nomezinhos vão aparecer em outros filmes garantindo a qualidade do seu entretenimento. Você podia pelo menos dar uma olhada neles. Os que ficarem serão recompensados.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

SPEED RACER brilha (até demais)

por Ricky Nobre



É Speed Racer é um filme sem público. É preciso ter assistido ao desenho no Capitão Aza aos três anos de idade para conseguir apreciar as reais qualidades do filme, mas esses mesmos fãs poderão não tolerar seus principais defeitos. Assim, cada um encontrará dentro de si como esses pesos se equilibram. Para todo o resto do mundo... é um filme MUITO estranho.

O primeiro trabalho pós-Matrix dos irmãos Wachowski (V de Vingança foi só escrito e produzido por eles) vem com aquele aval que um estúdio só dá pra quem rendeu verdadeiras fortunas. Do mesmo jeito que a New Line deu carta branca artística e financeira para Peter Jackson fazer qualquer coisa que lhe desse na telha depois da mina de ouro chamada Senhor dos Anéis (e daí saiu King Kong), Speed Racer é fruto desta confiança cega da Warner nos irmãos. A apreciação dos dois por animes já era totalmente evidente em Matrix, seja pela coreografia estilizada das lutas, seja pela própria produção da série animada Animatrix, onde cinco dos sete episódios eram japoneses. Apesar da grande decepção que Matrix se tornou com as continuações, ter um dos mais icônicos animes adaptado por eles, não seria má idéia. Muito se especulou sobre qual o caminho tomado, até que saiu o primeiro trailer. Muita gente já começava a quicar.

O filme, na verdade, surpreende. Numa decisão incrivelmente enriquecedora para o filme, os Wachowski não emburreceram a narrativa, muito pelo contrário. Ela é sofisticada ao ponto de pôr em risco a conquista do público infantil, que pode ter sérios problemas em seguir a constante não-linearidade na qual a história transcorre, com constantes flashbacks entrecortados, flash-fowards e até cenas simultâneas entre presente e passado. Uma grata surpresa que nos faz lembrar o talento que os diretores apresentavam no início da carreira.

O roteiro equilibra muito bem o simplismo necessário a uma história de Speed Racer, com uma elaboração bastante razoável da trama, com algumas boas surpresas. O investimento emocional na jornada dos personagens dá profundidade e credibilidade a uma história que se passa toda numa realidade absurda, onde corridas de carros são quase espetáculos de luta livre. O elenco perfeito ajuda muito a tornar esse investimento um sucesso, pois os personagens estão perfeitamente adaptados (Gorducho é simplesmente impagável). O elo mais fraco é justamente Speed, não porque o jovem Emile Hirsh esteja mal, mas todos os outros estão bem demais. Todos falam como as vozes (americanas, claro) do desenho, sem caricaturizar ao ponto de arruinar o texto, trazendo ainda mais charme em sua contribuição para a absoluta estilização do filme.



Então o filme é um absoluto sucesso!! Err... não. Um único aspecto é capaz de levar o filme por água abaixo, dependendo do quanto te irrite. As corridas são um desastre. É uma enxurrada tão absurda e desproporcional de luzes, cores e movimento, nas imagens mais indutoras de epilepsia já criadas! Tudo brilha como uma superfície metálica, ou até mesmo plástica, e texturas estão ausentes até mesmo das pistas. Nenhum carro parece andar em linha reta, deslizando constantemente de lado, no que na cabeça maluca dos animadores (tudo ali é digital) deveriam ser derrapagens. Não que os indizíveis absurdos das corridas sejam ruins em si, pois, do contrário, não seria fiel ao desenho, mas espera-se, pelo menos, que as pistas pareçam pistas e que os carros andem pra frente. Salva-se, com louvor, o rali, que atravessa desertos e montanhas, evocando com perfeição as grandes corridas do desenho. A presença do Mach 6 na última corrida também vai desagradar os mais conservadores, além da overdose high tech onipresente, num amálgama, sem sempre bem sucedido, com visual retrô.
Se as corridas em pista incomodam tanto, o final do filme acaba sendo um grande anti-clímax, quando todos os defeitos decidem se reunir numa única seqüência para caçoar do público pagante. Numa tentativa de se aproximar do público jovem que não via o desenho há 40 anos, os Wachowski acabaram transformando as corridas num grande videogame tão insípido quanto ultrapassado (nem os games de hoje parecem tão falsos). Por outro lado, esse público que não cresceu amando o desenho deve acabar achando todo o conjunto uma imensa bobagem.



No filme, Speed Racer tem a cara dos Wachowski, para bem e para mal, com todas as boas e más surpresas às quais eles já nos acostumaram. Se você é fã, encha seu coraçãozinho de amor e vá ver, que tem MUITA coisa boa ali. Se não for, é melhor ir ver Homem de Ferro.

NOTA: 3/5

Ricky Nobre brincava de Speed Racer com seus carrinhos de ferro e notou perturbadora semelhança entre seus brinquedos e os carros em GCI...

Ficha Técnica: Speed Racer
EUA, 2008, 135 min
Direção e Roteiro: Andy Wachowski & Larry Wachowski
Elenco: Emile Hirsch, Susan Sarandon, John Goodman, Christina Ricci, Matthew Fox.

TROPA DE ELITE TAMBÉM JÁ PEGOU VOCÊ



A Tropa de Elite do Alcatéia escreveu sobre o filme mais comentado de 2007. Relembre as matérias.

Crítica Eddie Van Feu

Crítica Ricky Nobre

Crítica Patrícia Balan

TROPA DE ELITE - Vai pra casa, Padilha!

por Patricia Balan



A crítica da Eddie Van Feu foi um bocado irritante. Ela tem a vantagem de não dormir e não parar. Ela sempre escreve o que eu quero escrever antes de mim!
Então vamos ver o que sobrou prá mim. Ela já falou da fotografia do filme... do roteiro do filme... Ah, mas não basta que uma loba só fale! O filme é muito BOM. O filme é bonito, sim – e muito bem dirigido. José Padilha ainda está sendo chamado de “extrema direita”, de glorificar a violência policial. Eu detesto ficar falando frase feita, mas: Vai pra casa, Padilha! Não tem como discutir com jornalistas que estão apavorados achando que o povo vai querer o regime militar de volta.
Honestamente... O que a mídia achou que iria acontecer? O povo está SEM VOZ NENHUMA! A mídia não enfrenta ninguém! As novelas estão cada vez mais burras, os humoristas estão cada vez mais politicamente corretos. Ficar fazendo piadas sobre sexo e pum não faz de ninguém um contestador – você é só mal educado. Quem tem poder de comunicação faz questão de tratar matérias profundas com superficialidade e matérias superficiais com profundidade.

Mas o Padilha... O que é que o Padilha tinha na cabeça? Se ferrou! Se ferrou de todos os lados. Porque é que ele não continuou com o discurso batido sobre as vítimas da sociedade?! Por que é que ele não apontou o dedo para a sociedade em geral, para o poder em geral, para o sistema EM GERAL para não apontar coisa nenhuma?! Mas o Padilha... O Padilha não tem juízo. Ele foi fazer um filme bom, honesto com os princípios da arte. Um roteiro bom, honesto com os princípios do roteiro. Pegou atores bons e fez uma preparação séria com atores que já eram bons!!! O Padilha não tem jeito! Se ferrou! O filme foi pirateado antes que a crítica e as distribuidoras pudessem falar qualquer coisa. Qualquer marketing enganoso ou correto foi por água abaixo porque o povo todo já aprovou! O filme está causando uma febre sem precedentes! Eu não me lembro de Rambo, Guerra nas Estrelas, ou qualquer final de novela que fosse tão popular. O Padilha deu voz a quem já estava de acordo com a Lei do Silêncio. Milhões de dólares investidos em um filme genuinamente BOM e o Padilha não vai ver nem metade do lucro que este filme já está dando. Coitado do Padilha... Mas, também, ele ESTAVA PEDINDO PARA SER ROUBADO! Igualzinho ao Luciano Huck. Quem manda fazer um filme bom e honesto sobre o Rio de Janeiro? Estava pedindo para ser roubado! Qualquer coisa linda de morrer e de qualidade acaba sendo arrancada de você nesta cidade. Esta é a lição que ficou para mim.

Oito entre cada dez pessoas que eu chamo para ver o filme comigo dizem: “Já vi! Estou com o filme lá em casa.” Chama o Nascimento!!! Pombas! Isso a Eddie já falou, mas eu vou falar também! Que tiro no próprio pé que o brasileiro deu! Ver esse filme trancado em casa com uma cópia inacabada é compactuar com a Lei do Silêncio. É como o policial corrupto que te olha com desdém perguntando se você tem provas. “O filme é um sucesso mesmo? Cadê as estatísticas? Filme pirata não entra em estatísticas, meu filho. Até onde se pode ver o filme não tem nada de especial...”

Mesmo que o filme seja um tremendo sucesso de bilheteria, como está prometendo ser, ninguém vai saber o quanto poderia ter sido melhor. Isso já foi dito milhares de vezes, até mesmo pelo José Padilha. A única coisa que eu posso dizer é... VAI PAGAR UM INGRESSO DE CINEMA, SEU ANIMAL!!! CONTRAVENTOR MISERÁVEL! TU TÁ DEVENDO UM INGRESSO PRO CINEMA NACIONAL, SEU FILHO DE UMA @¨%&$¨$(&%)*¨&!!!!!! TU PENSA QUE EU NÃO SEI QUE VOCÊ É DESONESTO, CONIVENTE COM TRAFICANTE, SEU IMBECIL!!! DESISTE DE FICAR NA MOITA E VAI PRO CINEMA!!! VAI PRO CINEMA, SEMENTINHA DO MAL!! Pega o saco aí, Eddie!

Chama o Nascimento!



Nana, playboy, que o Bope vai pegar
o foguete foi pro saco e o
Nascimento vai chegar...


A verdade é que a gente quer o Nascimento para os outros, e não para a gente. A violência policial já está sendo vista como resposta por muitos programas de AM e programas de televisão. Tanta gente já fala que tem que prender e matar e torturar. De qualquer maneira foi bom ver, depois de muito tempo, o medo dos bandidos com nome e sobrenome. Roberto Nascimento, figura fictícia que agora faz parte de todos nós. Quem sabe com esse nome acontece algum “nascimento” de inconformismo e a conivência morre.

Eu vivo com medo. Tenho medo do meu chefe, do meu governo, do meu gerente de banco, DO ASSALTANTE, do meu vizinho que eu não sei quem é... Foi bom para mim conhecer, ou pelo menos imaginar, qual seja o medo dessa gente que me dá medo. “Olha, seu traficante, pára de vender drogas aqui na escola senão vou chamar o Nascimento, viu? A polícia normal não vem, mas ele vem. Olha ele lá na esquina!”

o Nascimento não vem coisa nenhuma, mas vale a pena sonhar. O filme é uma boa fábula neste sentido.

Então, chama o Wagner Moura!
A escolha dos atores foi fantástica. Nada melhor do que escolher um ator que a gente viu crescer para interpretar o anjinho do Neto. Foi perfeito escalar um ator talentoso e desconhecido para viver o André Mathias, um sujeito que está desesperadamente tentando não ser reconhecido. Só que existe outro culpado para o sucesso deste filme. Com a devida admiração ao Caio Junqueira e André Ramiro, o Wagner Moura é show. Quando é que a gente ia acreditar que um capitão do Bope ia ter aquela cara bonitinha e ainda iria meter medo nos outros? O Wagner Moura mesmo não pode subir o morro para enfrentar os caras porque as mulheres iriam pular no pescoço dele muito antes! Desculpe, Seu Wagner. Com todo respeito. Seu talento é impressionante. Eu quase esqueci que o senhor é uma gracinha. Mas eu já vi o filme três vezes e, quando é assim, a gente nota certos detalhes.

Legal mesmo é descobrir que o cara que deu vida ao pavoroso Nascimento é um baiano tão sem pressa que tem um Fusca 68! Ele nem pode vender o carro porque deve respeito aos mais velhos. O carro é mais velho que ele! Não é a primeira vez que Wagner Moura faz com que o público se apaixone pelo vilão. Ele marcou presença ainda no sistema de roteiros sem sentido e repetitivos. Quando colocaram um roteiro de verdade na mão do sujeito ele arrebentou. Com mais alguns anos ele descobre que o Passat já foi fabricado e chega no estúdio mais rápido.

O bacana é que, para se livrar da pele do Capitão Nascimento, Wagner Moura está querendo fazer uma peça de Shakespeare. Ele vai ser Hamlet! Ora, bolas. Ele quer se livrar do Capitão Nascimento encarnando um sujeito depressivo que se veste de preto e que faz discursos com caveiras nas mãos?! Ô, Seu Wagner, pensa de novo. Eu já não consigo lembrar da peça do jeito que lembrava antes...

Gertrude: Meu bom Hamlet, tira estas cores noturnas e deixa que teus olhos te façam olhar como um amigo à Dinamarca. Bem sabes que é comum...
Hamlet: Mãe, meu uniforme é PRETO. E tu, Claudius! És moleque! És safado e corrupto! Mataste meu pai, não é, seu safado??!!! Olha-me nos olhos! Perdeste, dinamarquês incestuoso, assassino, maldito!! Perdeste!

Essa versão de Hamlet vai ser curtinha...

TROPA DE ELITE - As vítimas vivas da guerra

por Rick Nobre



Ver e pensar sobre Tropa de Elite não é uma tarefa mundana dentro da rotina cinematográfica comum, seja para um crítico, para um espectador ou para um analista de diversas especialidades relacionadas ao filme, seja ela sociologia, segurança pública, política, psicologia e outras tantas. Pra quem conseguiu se esquivar do milhão de cópias piratas que foram postas na rua três meses antes da estréia do filme, assisti-lo finalmente em seu lançamento comercial é um ato já contaminado por dezenas de opiniões dos mais diversos articulistas, capas de praticamente todas as revistas de informação do país, além da verdadeira histeria popular que se formou em torno do filme. Ao ganhar virtualmente todos os camelôs da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, além do centro da cidade, o povão que não tem 15 reais no bolso pra ir ao cinema pôde pagar 5 pratas e emprestar pra uns dez amigos, que emprestavam pra mais tantos, formando o público estimado em 11 milhões em todo o país antes mesmo da estréia oficial. A população que mais convive diariamente com a violência, do crime e da polícia, elegeu o Capitão Nascimento como seu herói, que, pegando geral, dá aos traficantes o que eles merecem. Em contrapartida, parte da imprensa quicou com a truculência policial desavergonhada e acusou o personagem aclamado pelo povo de “repugnante”, afirmando que o filme glorifica a violência policial, reduz a classe média a tolos estereótipos, formando uma obra ostensivamente reacionária. É, portanto, impossível tentar assistir Tropa a esta altura do campeonato com uma mente totalmente imparcial, como se as questões do filme já não fossem suficientemente incendiárias e controversas por si só. Mas o que fica numa análise mais atenta é que quem chama o Capitão Nascimento de herói nacional ou de repugnante, é porque não entendeu nada.

Os leitores podem lembrar da direita conservadora mala que encheu nosso já combalido e esgarçado saco, esbravejando contra filmes de grande sucesso como Cidade de Deus e Carandiru, acusando-os de santificarem os criminosos e fazerem apologia ao crime. Não deveria ser nenhuma surpresa (embora o seja) que a esquerda imbecil pós Lula venha nos azucrinar com a idéia de Tropa de Elite ser um filme reacionário que glorifica a brutalidade policial. Os filmes citados apresentam pontos de vista: uns de um lado, e este, mais recente, de outro. Não se espera, de forma alguma, que um cineasta simplesmente desdobre a visão de um determinado segmento diante dos nossos olhos sem que ele próprio exerça sua visão crítica. E José Padilha o faz e está tudo lá pra quem for ver o filme de olhos e cabeça abertos.

Baseado no livro de (supõe-se) ficção Elite da Tropa, escrito pelos ex-membros do BOPE André Batista e Rodrigo Pimentel e pelo antropólogo e ex-secretário de segurança pública de Rio de Janeiro Luís Eduardo Soares, Tropa de Elite é um mosaico de tragédias dentro da grande desgraça que é a instituição policial carioca. O papel do BOPE dentro deste sistema é explicado de forma simples e contundente pelo Capitão Nascimento: são acionados quando o frágil equilíbrio entre as armas dos traficantes e a corrupção da polícia se quebra. O público acompanha a vida do capitão e de dois aspirantes, Neto e Matias. O primeiro tentando ser substituído para poder se dedicar à esposa e o filho que vai nascer. Os demais começam a aprender, de forma dura, que o sistema policial não comporta suas visões ingênuas de jovens que ainda acreditam que é possível fazer a coisa certa. Todo o sistema de corrupção policial é dissecado no filme como numa autópsia: desde os PMs que vendem armas a traficantes, aos capitães que aceitam dinheiro dos bicheiros e traficantes, e os policiais que se viram como podem, recebendo de donos de bar por proteção extra, por não saberem como sustentar suas famílias com 500 reais, enquanto viaturas apodrecem nas oficinas. Desta forma, é construída diante de nós uma polícia impossível de funcionar, por absoluta falta de preparo, equipamento e estímulo, porque ninguém vai subir morro e tomar tiro por menos de dois salários mínimos. Desta forma, o BOPE se vê e se mostra como uma célula orgulhosa, brava e incorruptível, os últimos a terem condições de fazerem a coisa certa, da forma certa. O filme é narrado por seu personagem principal como um soldado numa guerra. E numa guerra luta-se de acordo.

A luta dos aspirantes em acomodar seus anseios dentro do sistema corrupto é tão agoniante quanto a tentativa desesperada do capitão Nascimento em sobreviver a ordens imbecis e à avassaladora superioridade numérica dos criminosos. Instabilidade emocional e crises de pânico o tornam ainda mais violento, o que preocupa seus colegas e sua esposa. Não é fácil gostar do personagem quando começa o inacreditável treinamento para novos integrantes do batalhão e, conforme ele vai chegando no limite, dá vontade de dar um tiro no cara quando ele se vira contra sua própria esposa. Da mesma forma, é impossível não se identificar com sua revolta contra os usuários de drogas, seu desprezo por policiais corruptos e sua culpa pela morte de um “vapor”. “Deve ser duro para uma mãe não poder enterrar o próprio filho”, uma das frases mais marcantes do filme e que surpreende os que vão traçando um perfil estereotipado do capitão, até culminar em sua inacreditável decisão em encontrar o corpo do menino.

A questão dos usuários mostrada no filme é um capítulo à parte. O retrato dos estudantes usuários de drogas que criticam o governo, a violência e a polícia, sem jamais raciocinarem sobre seu papel como consumidores dos produtos do tráfico é absolutamente pertinente e inédita na nossa dramaturgia. O próprio Capitão Nascimento, tão demonizado por parte da mídia, admite que não alivia, mas entende como um morador de favela se torna traficante, mas não um rapaz de posses que nasceu com tantas outras oportunidades. Pode, por vezes, parecer exagerado, como se fossem os estudantes todos imbecis, mas faz sentido a partir do momento que o filme é o ponto de vista da polícia. A maior falha do filme talvez seja não separar joio de trigo no que se refere às ONGs. Ao mostrar apenas uma, pode sugerir que são todas dominadas por políticos em campanha e por estudantes maconheiros, com o reforço do fato de que, pra colocar qualquer coisa na favela é necessário pedir permissão ao dono. Sendo várias dessas ONGs a única forma de assistência que chega a uma área onde o Estado se omite completamente, pedir permissão ao “chefe” pode ser encarado como um mal tão necessário quanto usar dinheiro de corrupção para consertar carros da polícia.

O Capitão teme morrer e deixar sua família desamparada. Mas não parece temer por sua própria alma, nem as de seus companheiros. De fato, esta é sua principal arma. A brutalidade do treinamento do BOPE, onde entram 100 e saem 5, serve como um curso de desumanização, de desvalorização da vida, muito próximo ao que passam os meninos que entram para o tráfico, onde têm que mostrar seu valor praticando os primeiros assassinatos. Numa guerra, luta-se de acordo. E sem remorso e sem pudor algum, ele usa, explora e alimenta a culpa e o ódio de Matias para que ele seja capaz de realizar os atos que o tornem digno de ser seu legítimo sucessor: o novo capitão do BOPE. O jovem idealista que “achava que fazia muito sentido estudar direito e ser policial” abraça a brutalidade e morre um pouco por dentro, sendo mais uma vítima da guerra que não tem fim. A simbologia gritantemente eloqüente da bandeira negra do BOPE cobrindo a Bandeira Nacional é, mesmo em meio às brutais cenas de tortura, talvez a mais chocante cena do filme.

Todo o humor que percorre Tropa de Elite, e o que o torna suportável de ser assistido para nossa sensibilidade, desaparece em seus 20 últimos minutos, deixando corações gelados ao fim da projeção. Profundamente perturbador e meticulosamente esclarecedor, Tropa de Elite é um lado da guerra ainda não explorado pelo cinema e que é muito mais rico do que parece, mesmo com suas pequenas falhas. Longe de glorificar a violência do BOPE, ele mostra como ela é inevitável dentro da realidade em que aqueles homens são inseridos e como ela arrasta, dia a dia, a guerra para cada vez mais distante de seu fim.

PIRATARIA E A FUNÇÃO SOCIAL DO CINEMA.

Fazer cinema no Brasil foi, em diversos momentos de sua história, um ato político, uma forma de resistência cultural. A herança cinemanovista, com seu enfoque social predominante, deu ao nosso cinema uma obrigação sociológica que boa parte dos cineastas abraçou de corpo e alma, enquanto outros aceitaram como ela era: uma obrigação. Depois da febre das pornochanchadas e da morte do cinema pós Collor, este enfoque voltou a ocupar um lugar em nossa cinematografia, mas não como antes. Afinal, o “cinema da retomada”, inaugurado em 1995 com Carlota Joaquina, pregava uma diversidade de temas e estilos rigorosamente inédita na cinematografia nacional. O enfoque social tornou-se apenas uma das possibilidades, mas tornou-se, veja só, discurso oficial. De acordo com a Lei de Incentivo à Cultura, de onde sai todo o dinheiro usado em cinema no Brasil, é prevista uma obrigatória “contrapartida social” que um filme deve ter para receber verba do governo. Há quem defenda, com muita propriedade, que o simples fato de fazer um filme no Brasil já é uma contrapartida social por si só.

Neste panorama, a idéia de “cinema de cunho social” tornou-se um estereotipo dentro de seu próprio meio, e motivo até de piada de quem acha que não está aqui para pagar 15 reais pra ver os problemas do país. Cidade de Deus inaugurou o gênero “pobreza para as massas”. Filmes dinâmicos, com muita ação e excelentes diálogos que falavam das mazelas sociais num outro tom. É natural que o conceito de “função social do cinema” se perca em todas essas traduções e trilhas cheias de curvas. É aí que Tropa de Elite surpreende, mesmo que acidentalmente e talvez ainda sem dar-se conta.

O fenômeno que se seguiu à popularização instantânea do filme assim que caiu nos camelôs é rigorosamente sem precedentes. Pessoas gritam espontaneamente nas ruas os diálogos marcantes do filme e assistem compulsivamente múltiplas vezes, numa obsessão teletubbie assustadora. Até sex shops já carregam produtos relacionados ao filme. A expressão “fenômeno cultural” não é de forma alguma um exagero neste caso.

O filme, com sua linguagem popular (em contrapartida à sua linguagem cinematográfica sofisticada), cativou os corações e mentes da população que ouve Patrulha da Cidade e foi criado a manchetes de jornais populares do calibre de “BOPE esculacha geral no Alemão”. O personagem alçado à condição de herói, assim o foi graças à percepção prévia do público de que o extermínio é a única arma na guerra contra o crime, emoldurado pela admiração ao capitão que é, aparentemente, o incorruptível dentro de um covil de corruptos. Ele faz o melhor que pode com os quase inexistentes recursos que recebe. É possível estimar que o diretor José Padilha jamais imaginou que o filme seria assistido de forma tão ostensiva e vasta pelas classes populares, ou não teria deixado boa parte de seus questionamentos ao nível sutil e refinado em que deixou. Mas, por outro lado, parte da “intelectualidade” quebrou a cara também ao ler o filme como reacionário, o que mostra que bagagem cultural pode não ser suficiente para ler as sutilezas de uma obra além dos preconceitos.

Quando a cópia pirata de Tropa de Elite caiu no mercado 4 meses antes de seu lançamento oficial (que acabou sendo adiantado em 1 mês e meio) houve grande discussão sobre se isso destruiria a carreira cinematográfica do filme ou se serviria de instrumento de marketing para alavancar sua popularidade. Não era pra ter acontecido, mas aconteceu. Um escroto sem mãe achou uma boa idéia piratear um filme brasileiro. Filme brasileiro, gente! É a mesma coisa que roubar de pobre! Mas o filme não foi apenas pirateado e visto por vias escusas: tornou-se uma mania nacional que as atuais novelas da Globo apenas sonham em ter novamente. Uma quantidade de gente e, acima de tudo, de um segmento social específico, foi exposta ao filme de forma que jamais seria se dependesse das bilheterias dos cinemas. Ao se mostrar compulsivamente obsessivo por Tropa de Elite e alçar o Capitão Nascimento ao status de herói nacional, o povo brasileiro fez o filme cumprir, de forma jamais sonhada por seus realizadores, sua FUNÇÃO SOCIAL. Ao realizar Tropa de Elite, José Padilha procurou chamar a atenção da classe média, da classe intelectual e dos setores públicos para como a guerra contra o tráfico se desenvolve do ponto de vista da polícia. Mas ao cair nas graças do povão, Tropa de Elite se mostra como um ponto de partida para questões ainda mais contundentes. E cabe àqueles capazes de se esquivar e sobreviver aos diversos petardos atirados ao filme a tarefa de analisar as questões da criminalidade e segurança pública sob uma nova luz: o que o povo está dizendo ao se mostrar obcecado por esta história que é parte tão indissociável do nosso dia a dia? O que significa a esmagadora aprovação popular pelo Capitão Nascimento?

Um povo que se formou sem a menor noção de como se exerce cidadania grita como pode (ou como sabe). Nem que seja rindo com os amigos repetindo os diálogos mais marcantes e assistindo o filme pela trigésima vez.

TROPA DE ELITE - Osso duro de roer, mas que ninguém quer largar

por Eddie Van Feu



O ex-Lobo Antero já tinha falado de Tropa de Elite no Festival de Cinema aqui no Alcateia.com, mas o restante dos Lobos estava preso na senzala e só pôde ir ao cinema agora. Portanto, “Aspira 06” se apresenta agora para falar sobre o filme mais polêmico do ano.

Pra começar, temos um fator tão óbvio que deveria saltar aos olhos. Todo mundo já viu esse filme. Como? Pirataria. Que a pirataria é um fato, a gente já sabe. O espanto é todo mundo achar extremamente natural compactuar com um crime. Mais do que isso, é a falta de companheirismo com um filme que é nacional. Estamos roubando de nós mesmos, e, aparentemente, sem a menor consciência disso...

O que nos leva aos estudantes que vivem na ilusão, aos policiais que vivem de propina, à máquina que não anda, ao sistema que não funciona, numa linda e fatal alquimia que acaba explodindo na nossa cara. Tropa de Elite mostra muito bem e com detalhes essa explosão (que acontece todo dia, em todo lugar, o tempo todo...).

O filme é bom. Tem roteiro amarrado, diálogos marcantes, personagens interessantes e convincentes e uma fotografia linda, apesar de nem sempre mostrar algo muito bonito. Isso, você já deve ter ouvido falar também, então não vou me estender muito. Vamos nos concentrar então no mérito do filme. Violento? Fascista? Unilateral? É o Capitão Nascimento um herói nacional?

Admito que pelo que me contaram do filme, achei que o Capitão Nascimento fosse uma espécie de Rambo ou Charles Bronson. Pra minha surpresa me deparei com um pai de família tentando sobreviver a um comando estúpido. Ou seja, o mesmo papel que eu e você interpretamos todo dia num país em que o Governo inexiste em questão de segurança pública, saúde, educação, etc..., etc..., etc... É claro que ele é um herói nacional! Ele representa tudo o que nós gostaríamos de fazer! Ele tem a coragem que gostaríamos de ter, a inteligência e o discernimento que todos sonhamos ter um dia. E ele é maluco! Exatamente como nós ficaremos a qualquer momento, depois de viver mais alguns anos sob a pressão que estamos vivendo. Ninguém consegue viver sob pressão o tempo todo e sai impune. Daqui a pouco estaremos como os americanos, que de vez em quando sobem numa torre e atiram em estranhos.

Isso deveria ser um aviso muito importante. Mas ninguém parece estar ouvindo. Vimos claramente que o sistema está corrompido e ninguém parece ter a menor idéia de como consertá-lo. Mais do que isso, ninguém parece querer que isso aconteça. Para muitos, a situação é estranhamente cômoda. Em contrapartida, temos as discussões que deveriam estar acontecendo, mas não estão. Quer dizer, estão, mas numa direção meio torta. Não é um filme fascista, especialmente porque abriu um monte de discussões. Não exalta a violência, mas mostra uma realidade que o faz. O filme fez o que se propôs: mostrou em cores sóbrias e com bom humor o que acontece a nossa volta.

E agora? O que fazemos? Já vimos que o sistema não funciona porque está corrompido até o talo. Já vimos que essa... coisa (não tem outra forma de chamá-la) continuará a crescer até devorar a cidade, e depois o país, até não sobrar nada. O que fazemos? Abraçamos a Lagoa? Fazemos uma passeata de branco? O que fazemos??? Insistimos em não reagir na esperança de que o bandido tenha algum senso de ética e não nos mate assim mesmo? Gente! É sério! O que nós vamos fazer?

Não sei. O problema parece tão grande que cansa só de começar a pensar nele. Por hora, podemos prestigiar o filme no cinema, não por ser nacional, mas por ser bom. Podemos criar um pouco de vergonha na cara também e começar a agir como pessoas mais íntegras nas pequenas e grandes coisas. Como? A proposta é simples lição comercial: sem procura não tem demanda. Vamos parar de usar drogas. Ah, você já não usa? Ótimo, mais fácil ainda! Então, vamos parar de confraternizar com quem usa. Se você conhece pessoas que compram, exclua-as de sua agenda social. É um projeto de EXCLUSÃO SOCIAL mesmo. Puro preconceito, sem a menos culpa. Basta virar para seu colega de faculdade, seu vizinho que vive doidão, colega de escritório, seu irmão, ou mesmo seu filho e dizer: “Se você usa qualquer tipo de droga, não entra na minha casa, não senta na minha mesa e nem olhe na minha cara, porque não vou falar com você. Você é uma pequena peça de uma engrenagem que faz um estrago danado e permitir sua existência pacificamente do meu lado me torna cúmplice dessa máquina horrorosa”.

Note que não estou pedindo pra você subir o morro ou coisa assim. Mas simplesmente tomar partido. Ou você está do lado de lá, ou do lado de cá. E então, 02? Vai pedir pra desistir? Porque ficar no meio, não dá mais...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Jornada nas Estrelas: zerado é dez! 

Por Ricky Nobre


Toda obra/saga de proporções epicamente nérdicas possui tipos variados de fãs, embora o imaginário popular pinte todos como iguais (a figura típica do fanboy insuportável). Existem os mais radicais, os mais tolerantes, os festivos, os compenetrados, os compulsivos, os intelectualizados, os estúpidos e, obviamente, os babacas. Por que estamos falando disso? Porque o caso de Jornada nas Estrelas é um dos mais emblemáticos. São dez filmes para cinema, mais seis seriados diferentes, produzidos num espaço de 40 anos, totalizando 728 episódios, todos com uma obrigatoriedade tirânica de consistência cronológica, que foi ficando cada vez mais densa e complexa conforme as histórias foram sendo produzidas. Com o fim da saga do elenco de A Nova Geração com o mal recebido e subestimado filme Star Trek: Nêmesis e da igualmente criticada série Enterprise (que não conseguiu emplacar a quinta e última temporada planejada), a aparentemente imbatível franquia parecia ter atingido o esgotamento absoluto. Nenhuma das séries possuía elencos que garantissem o sucesso comercial de novos filmes para cinema, enquanto a produção de uma nova série estava fora de cogitação. O controle da franquia saiu das mãos da Paramount para ir para a CBS depois da divisão da Viacom. O que seria de Star Trek, a mais longa saga de ficção científica já contada na TV e no cinema?
As notícias de que um novo filme seria produzido enfocando as origens dos personagens da primeira série de Star Trek (conhecida como série clássica), com novo elenco e visual modernizado, encheram o coraçõezinhos dos trekkers de horror. A idéia de “trazer o universo de Star Trek para as novas gerações” não cheirava nada bem. Efeitos especiais espetaculares, muita correria, pouco roteiro e edição muito, mas MUITO frenética para captar as mentes adolescentes vítimas da endemia de TDA eram as expectativas óbvias. Respeito à cronologia? Até os mais otimistas tinham suas dúvidas...


Para tal tarefa foi convocado o novo Midas da TV americana (até o dia em que ele finalmente, para alegria de muitos, falhar como qualquer ser humano): J.J. Abrams, a mente por trás de Alias e Lost. Sua estréia no cinema com Missão Impossível III já havia mostrado que seu talento ia além da telinha. Suas declarações de que não era exatamente um fã da franquia e que pretendia realizar diversas mudanças não ajudaram a acalmar os ânimos dos fãs. Mas o que são os fãs de Star Trek? Afinal, a franquia sempre deu dinheiro, mas nunca foi um arrasa quarteirão, nem no cinema e nem na TV. O que o estúdio realmente queria era utilizar um nome de peso, já consolidado por décadas, mas mirando no público em geral, o mesmo que torce o nariz e acha a série enfadonha. Assim sendo, cada trailer, cada imagem, cada boato relacionado ao filme era minuciosamente escrutinado pelos fãs em constante vigilância por qualquer heresia.
Esse papo todo é para você, meu caro, um não-fã da série que entrou aqui e não entende qual é toda essa polêmica em torno do que é um dos melhores filmes lançados este ano. Sim, Star Trek é simplesmente um filmaço.


Para início de conversa, sim, o filme está drasticamente “atualizado” no que se refere a estilo. Muita correria, batalhas e ação espetaculares! Efeitos especialíssimos e mirabolantes. Uhura de lingerie! E sim, mudanças drásticas. Mudanças estas que se apóiam numa premissa básica do roteiro: a alteração de linha temporal. E aí vemos o primeiro grande mérito do roteiro. A franquia é inundada de histórias de vigem no tempo (a série Enterprise foi quase toda baseada neste artifício). Realizar um novo filme de Star Trek utilizando paradoxo temporal sem cair na mesmice e no tédio já foi uma verdadeira proeza. E é a volta no tempo de uma nave romulana que desencadeia uma série de eventos (alguns deles catastróficos) que alteram permanentemente a linha temporal daquele universo, dando conta, assim, de praticamente todas as mudanças apresentadas no filme, quando comparadas às séries originais. Existem furos, porém. Saarek é melhor e mais compreensivo pai do que ele jamais foi, e mudança temporal alguma explica isso. E o envolvimento romântico de dois personagens principais (não vamos entregar o ouro aqui) não desce pela goela do fã mais tradicional, além de também não se explicar pela alteração do tempo.

Mesmo que cadetes sejam promovidos a oficiais em questão de horas, o roteiro permanece de alto nível, com muita atenção e respeito aos personagens, altas doses de humor sem nunca extrapolar e comprometer o drama e, a grande surpresa, uma infinidade de pequenas referências que mostram grande reverência ao material original. O elenco capta com muita propriedade os personagens originais (o McCoy de Urbain é quase um caso de possessão). Uma ressalva seria para a Uhura de Zoe Saldanha, excessivamente magra e durona para realmente lembrar a personagem original em qualquer âmbito que seja. Mas Leonard Nimoy (o Spock original) está lá atuando como o cimento que liga indissoluvelmente os dois universos. O vilão Nero (Erica Bana) é ralo e mal construído, mas suas ações são tão apavorantes que ele acaba dando conta.


Obviamente, muitos fãs espernearam. Os motivos, não poderíamos citar sem entregar a história. Mas uma enorme e inesperada parcela está louvando o filme como genial, assim como o público comum não-trekker (esse que vai realmente pagar a conta do orçamento astronômico de 150 milhões de dólares). Um segundo filme já foi encomendado e existem planos de uma nova série de TV baseada na nova linha temporal. Abrams mostrou ser digno de uma verdadeira missão impossível e os fãs de coração mais aberto agradecem de joelhos. Jornada nas Estrelas não morreu. Quem diria?

Nota: 5/5
Ficha Técnica
Star Trek EUA, 2009, 126 min
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Roberto Orci e Alex Kurtzman
Elenco: Cris Pine, Zachary Quinto, Karl Urbain, Eric Bana, Leonard Nimoy.

WATCHMEN


Parecia impossível dizer isso de um filme de Zack Snyder, mas Watchmen possui um aspecto essencial que é a fonte de todas as suas qualidades e defeitos: é um filme de arte, por mais bizarra que a afirmação possa parecer. O filme possui a auto-indulgência típica dos filmes de autor, indo na contramão das expectativas e acusações dos fãs da graphic novel original, que afirmavam que o diretor transformaria a pesada, densa e revolucionária obra de Alan Moore em um blockbuster de verão. Não se engane, não são acusações vãs. Os vigilantes fantasiados, pessoas teoricamente normais fisicamente, viraram seres com super habilidades, ao baterem, apanharem e pularem muito mais do que qualquer ser humano normal seria capaz. Longe do realismo dos quadrinhos (levado às vias de fato sem concessão alguma por Christopher Nolan em O Cavaleiro das Trevas), o filme oferece muito mais lutas e pancadaria suspensas por arames do que o original, porém muito menos do que seria de se esperar de um filme do gênero. Daí a irritação dos nerds que carregam o quadrinho como se fosse uma bíblia e a impaciência do público em geral, que considera o filme lento, longo, com muito papo e pouca ação. É por isso que Watchmen tem contornos tão profundos de filme de arte: Snyder não fez nem pros fãs, nem pras massas. Fez para ele mesmo.




Para tal proeza, ao contrário de outros filmes de arte, Watchmen consumiu milhões dos cofres do estúdio e provavelmente amargará um sério fracasso. Snyder usa o tempo do filme como quer, picota a narrativa, confia na cultura e conhecimento de política do público americano (biiiiiig mistake!!!!) e mistura estilização e realismo com resultados à beira da esquizofrenia. O filme causa muita estranheza frente aos filmes de heróis atuais, assim como o quadrinho causou em seu lançamento e merece ser visto com olhos mais atentos. O texto original de Alan Moore, muitas vezes utilizado palavra por palavra, soa excessivamente pomposo em alguns momentos (as narrações de Rorshack, principalmente), ou ingênuos demais para o cinema e/ou datados demais para o público atual (“O que aconteceu com o sonho americano?”). O maior problema em adaptar uma obra como Wacthmen não é a complexidade nem a temática, mas o impacto que ela representou em sua época. Era totalmente sintonizada com sua época e ao mesmo tempo transgressora, ao ver a podridão por baixo dos smileys novaiorquinos e da euforia yuppie individualista, uma época colorida que abrigava em suas entranhas a volta triunfal do conservadorismo bélico republicano. Para Snyder, a única forma de manter esse conteúdo relevante foi fazer um filme de época, ambientado na mesma 1985 alternativa do quadrinho.



É preciso ser honesto e admitir que Watchmen, o filme, não se parece com nada feito recentemente. Toda a acidez, desesperança, cinismo, está tudo lá, misturado a um punhado de cenas de ação de tirar o fôlego. Com uma obra tão original e impressionante, as cenas de violência explícita, típicas de filmes de horror, se mostraram totalmente gratuitas e não colaboraram em nada com a narrativa. Se o realismo sangrento do Dr. Manhattan explodindo pessoas é um ponto a favor na proposta realista-estilizada de Snyder, os desmembramentos, fraturas expostas e crânios partidos a golpes de cutelo, no melhor estilo Jason, soam mais como uma auto-afirmação do diretor, como quem diz: “Estão vendo? Tô fazendo um filme ADULTO, sacaram?” Se for para usar um recurso tão extremo, é bom que ele tenha uma função essencial no filme (como a horrenda cena na garrafa de O Labirinto do Fauno, imprescindível para dar o tom de medo de todo o resto do filme). Com toda a complexidade e temática sombria que o Watchmen já apresenta, isso, além de desnecessário, é um tanto juvenil.



A tão alardeada mudança da conclusão em nada fere a história original nem o filme em si. A trama e o resultado são os mesmos, em momentos que são talvez o ponto alto do filme, com conflitos éticos de verdade e integridade dos personagens, capazes de gerar reais discussões na saída do cinema.
Watchmen era um filme impossível de ser feito há 15 anos, tanto pela tecnologia necessária, quanto pela realidade do mercado cinematográfico frente a adaptações de histórias em quadrinhos. O filme finalmente veio no momento certo e, se não é uma adaptação perfeita, está muito além do que expectativas realistas poderiam esperar, tanto por seu diretor, quanto pela natureza da obra original. Muito mais adequado ao circuito Estação do que aos Kinoplexes, Watchmen merece ser visto com atenção por fãs de quadrinhos e de cinema.

Nota: 4/5
Ficha TécnicaWatchmenEUA, 2009, 165 minDireção: Zack Snyder
Roteiro: David Hayter e Alex Tse, baseado na obra de Alan Moore e David Gibbons Elenco: Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson, Carla Gugino

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Esquadrão Classe A com Ridley Scott

Eu adoro quando um filme dá certo!
Eddie Van Feu



A adaptação da série super popular dos anos 80 Esquadrão Classe A para os cinemas já virou uma novela. De diretores a atores, muita gente já entrou e saiu de um projeto que não parecia nem ter saído da gaveta. Até agora. Os irmãos Tony e Ridley Scott se uniram para levar a série para as telonas. A dupla inglesa vai produzir e o filme será dirigido por Joe Carnahan. O projeto tinha sido descartado quando John Singleton pulou fora em outubro do ano passado. O diretor Carnahan, um ilustre desconhecido de 39 anos, promete no entanto trazer para as telas toda a diversão da qual ele se lembra da série de sua infância, A FOX não teve dúvidas em contratá-lo, pois acreditam que ele " pode fazer um filme que reflete o mundo real sem perder o senso de diversão e a ação rápida e dinâmica típica de um clássico filme pipoca de verão”. Ainda segundo a FOX, a presença de lendas como Ridley e Tony Scott dão um peso considerável que certamente eleva a qualidade do projeto como um todo.
O ator e escritor Dirk Benedict, que interpretava o Cara de Pau na série, em entrevistas para diversas TVs da Europa, onde vai freqüentemente à convite, afirmou que esse filme só vai sair depois que todos os quatro estiverem mortos. George Peppard, que interpretava o carismático Coronel John “Aníbal” Smith, faleceu em 1994. Mr. T venceu o câncer e ainda está na área, mas parece meio descompensado. Em recentes entrevistas, algo me diz que ele já está meio biruta. Falando em biruta, Dwight Schultz, que deu vida ao Louco Furioso Murdock, atua em dublagens e já afirmou que não faria uma participação especial caso fosse chamado. Dirk Benedict, o bonitão Cara de Pau, continua bonitão e faz eventualmente filmes pouco conhecidos e de qualidade duvidosa, mas tornou-se um excelente escritor, já no seu terceiro livro.

Muita água rolou debaixo dessa ponte onde quatro soldados do Vietnam eram condenados por um crime que não cometeram e fugiam de uma prisão de segurança máxima para se tornarem mercenários do bem. Muitas brigas e desentendimentos entre o elenco e uma certa má fé por parte da Produção deixou os atores ressentidos, mas isso é uma outra história. Por hora, só nos resta torcer para não estragarem mais uma coisa legal, como fizeram como Miami Vice, que poderia ser qualquer outra porcaria de filme policial, já que não tinha nada a ver com o espírito da série original.
Em tempo! O primeiro livro de Dirk Benedict já chega ao Brasil este ano: Cowboy Kamikaze – Uma Luta Contra o Câncer, é radical, divertido e extremamente polêmico, mas foi adotado pela Editora Linhas Tortas, que parece não ter medo de mexer em vespeiro. O livro está em processo de tradução e agendado para lançamento em novembro de 2009.

Relembre a abertura em versão Lego:


XENA - A Mulher que Todo Homem Gostaria de Ser

por Eddie Van Feu
Ela chegou como quem não quer nada, na carona de um seriado politicamente correto que atraía as crianças. Mas quando menos se esperava ela virou a mesa, começou uma confusão na taberna e meteu porrada em todo mundo!!! Ela é Xena, ex-inimiga de Hércules e ex-inimiga de um monte de gente. Ela não é semi-deusa e seu único super poder é a liberdade de roteiro que seu personagem oferece.

Xena é um prato cheio para qualquer bom roteirista e é, no momento, a única coisa, junto com Hércules, que justifica ligar a televisão convencional no domingo.
Muita gente não suporta a série porque não tentou assistir. É muito difícil não gostar de Xena. Seu jeito bronco e seus saltos impossíveis são uma delícia e os extremos de comédia e drama de episódio para episódio são um tremendo exercício de imaginação. Mas há duas regras básicas para quem vai assistir Xena. Em primeiro lugar, não espere “barbies”. De nenhum tipo. As mulheres são de verdade, como Gabriele (Renne O’Conour) e Xena (Lucy Lawless). Até a bela Afrodite é convincente como uma mulher que você encontraria na rua (com sorte, claro). Então, se você espera mulheres de silicone correndo seminuas na praia, vá ver Baywatch. Os homens também estão no mesmo pé. Das idiotices de Joxer, ao charme cínico e canalha de Ares, passando pelo típico interesseiro Autolycos, os homens são deliciosamente verdadeiros.



Mas verdade seja dita, Xena faz coisas que só a Xena faz. Seu chakra provoca avalanches, corta pedra, derruba uns 15 soldados inimigos de uma só vez e volta direitinho pra sua mão! Em algumas seqüências, ela sapateia nas cabeças dos inimigos, joga bebês para o alto enquanto mete a porrada em algum vilão, briga com panelas, frigideiras e, pasmem!, peixes!!! E é aí que entra a segunda regra de Xena. Não espere o óbvio. O óbvio a gente encontra no Jornal Nacional! Xena é lugar para o inesperado, o impossível e o improvável.
Mas a gente nem falou direito da Xena como personagem! Ela é rica e profunda porque é o oposto de Hércules. Enquanto o segundo é um semi-deus e sempre fez tudo certinho, ela é má, essencialmente uma vilã, que em algum momento resolve dar uma virada. Mas o passado é algo que não se apaga e sempre está presente na alma de Xena, sem no entanto torná-la um personagem atormentado e chato. E não podemos esquecer de Gabrielle! A loirinha ingênua e amiga fiel de Xena que a ajuda a discernir o certo do errado, tarefa muito mais difícil do que imaginamos. Sempre pensamos no preto no branco. Xena vive no cinza. Como nós.
O mundo de Xena é permeado por deuses e criaturas míticas, reis e ladrões, uma galeria infindável de personagens que demonstram uma incrível humanidade em todos os seus meios-tons.
O relacionamento de Xena e Gabrielle é de profunda amizade e quase nada as separa. Uma é fundamental no crescimento da outra e podemos ver o crescimento de ambas, tanto individualmente quanto como amigas. Alguns episódios são densos e profundos, com cenas muito bem feitas de batalhas e guerras. Outros são intimistas e belos. Outros ainda são completamente nonsense, com temáticas inacreditáveis, como o episódio em que Xena e Gabrielle passam o filme inteiro brigando porque Xena amassou a panela de Gabrielle quando brigava com um ladrão e usou os pergaminhos da loirinha para se limpar, pois não tinha folhas secas na moita em que ela foi. Escatológico? Você ainda não viu nada! Xena já ficou maluca (literalmente), encarou um “O Destino do Poseidon” no melhor estilo, inventou sem querer o Papai Noel, formou a constelação de Peixes jogando para o céu um peixe com um diamante dentro, interferiu na batalha de Tróia, encontrou César em pessoa e ajudou a salvar Cleópatra, dentre outras coisas... Por enquanto só tá faltando alguma aventura com o Rei Arthur ou uma no Planeta dos Macacos. O que é possível! E é isso que é maravilhoso em Xena!!! Tudo é possível!!! Para o melhor e para o pior, ela está lá, fazendo caretas, dando gritos, batendo em todo mundo e mostrando que se não podemos sempre fazer a coisa certa, podemos pelo menos tentar fazer o melhor que pudermos.



XENA na TV
Ela estreiou no Brasil no SBT, que nunca deu muita bola pra Princesa Guerreira. Tanto que tirou do ar sem avisar e nunca mais se manisfestou (como sempre). Foi na TV a cabo (ex-USA) que ela reinou do primeiro ao último episódio. Hoje ela barbariza de segunda a sexta na Rede Record.