quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TROPA DE ELITE 2

Tão bom que dá saudade de Tropa de Elite 1

Wagner Moura continua sendo a alma do filme interpretando magistralmente um personagem riquíssimo.

por Patricia Balan
Era tão mais fácil odiar o playboyzinho que sustentava o tráfico de drogas. Era tão mais fácil ter medo só da bandidagem. Era tão bom se chocar só com a violência e o fanatismo de uns soldados pavorosos, implacáveis e indubitavelmente necessários para a nossa sociedade.

Mas quinze anos se passaram. O inimigo agora é outro.

O problema de fazer uma crítica a Tropa de Elite 2 é não fazer exatamente o que a imprensa já está fazendo: contar a porcaria do filme todo! Mas o problema é que o filme está aí para todo mundo ver. É só olhar pela janela. Ninguém vai nos salvar, muito menos uns pobres homens de preto armados até os dentes! O filme fala dos conflitos de tentar resolver certas coisas em ano de eleição, ainda mais quando se tenta resolver coisas que ninguém quer resolver. O filme fala do problema que os direitos humanos causam para uma sociedade que quer justiça. Aliás, você pode não ter visto o filme, mas o filme já te assistiu há muito tempo. Para você, bandido bom é bandido morto, não é? O resto é negociável. Transporte público sem assalto já está bom. Pra quê saber de onde veio esse sossego? Fala a verdade: você liga?

O ator Irandir Santos interpreta Fraga, defensor dos Direitos Humanos
A vida nas cadeias - se é que isso pode ser chamado de vida - é a primeira bofetada que a gente leva ao sentar para ver o filme. Pode ficar tranquilo que Capitão Nascimento foi o único que viu clichê de filme americano em Tropa. O choque não é a violência imensa, o "assar o porco que engordaram" como Seu Jorge (excelente mais uma vez) já avisou no trailer. O choque é a gente se reconhecer nessa sociedade que Padilha mostra. Todos nós ouvimos as palestras sobre Direitos Humanos. Todos nós nos chocamos com as estatísticas, mas não nos chocamos com as consequências delas.
Padilha selecionou alguns momentos de humor, só para a gente não surtar. Milhem Cortaz repete o papel de Fábio. Um dos poucos que dá frases para repetir nesse segundo filme.
O filme perdeu um pouco em humor e não acredito que irá fazer a revolução do linguajar carioca que o primeiro filme fez. O inimigo é outro, o assunto é outro e é mais sério. Alguns personagens, no entanto, mantêm-se fiéis ao seus pontos de vista do primeiro filme. Eles são incapazes de adaptar-se à nova realidade que já chegam a perceber. Outros estão irreconhecíveis. Russo, interpretado por Sandro Rocha, está muito além do gordo nojento que apenas atestava que "para rir era preciso fazer rir".
Há poucos membros da imprensa dispostos a dedicar-se a reportagens investigativas. A imprensa anda bem mais amigável com o governo. Por que será?

Apesar de apresentar poucos momentos de humor, é impossível segurar a gargalhada ao assistir Fortunato, o apresentador do programa "Mira Geral". Nem tanto pela alusão ser tão clara aos apresentadores que temos, mas pela figura caricata que acredita tanto em si mesma e que sabe muito bem o que está fazendo. O ator André Mattos teria caído facilmente no ridículo, mas saiu pela tangente e nos deu um personagem adorável e detestável ao mesmo tempo.

Fortunato diz a verrrrrrrdade, doa a quem doeeerrrrr!
Com tantas verdades ditas nesse filme de ficção, é fácil esquecer que Tropa de Elite 2 também é entretenimento. A linha entre bandido e mocinho está ainda mais tênue. Ainda há a genialidade de criar personagens adoráveis que estão acima dos clichês de vilão e mocinho. Em dado momento o bicho-papão deixa claro que foi eleito democraticamente e isso dá a ele uma autoridade inquestionável. Inquestionável, sim - pois estamos em uma democracia. Cada voto conta.


Acertar bandido com tiro, é mole!! Acertar com documento são outros quinhentos!
E em ano de eleição, o investimento feito nestes votos é muito grande. O preço pago por eles é muito alto. E... Desculpem. É difícil ver Tropa de Elite 2 como um filme, e não como um trabalho de casa para ser digno de ser chamado cidadão.
É só um filme. Um filmaço brasileiro, batendo recordes de bilheteria, primando pela direção e pela qualidade técnica, com um elenco afinado (difícil dizer quem está mais à vontade no papel) e quebrando recordes de bilheteria sem nem uma explosão de carro despencando por barranco...

Ih, já falei demais!

Lute pelo seu ingresso o mais rápido possível, antes que publiquem o resumo do filme inteiro nos jornais.

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Sinceramente? Para mim, absolutamente nada é só entretenimento, e o que os filmes mostram eu já vi nos bastidores, em quartéis, nos anos de chumbo. Conheço os dois (principais) lados da moeda.

Anônimo disse...

Patricia, já me deu vontade de ver o filme.... vou lá....