segunda-feira, 22 de junho de 2009

O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO não salva nem a si mesmo.


Quando James Cameron, forjado no calor da batalha dos filmes B de Roger Corman, realizou seu primeiro longa metragem, ele provavelmente não imaginava que estava criando um dos maiores ícones do cinema de ficção científica, por mais que seu enorme ego sugira o contrário. Em 1984, com apenas 6 milhões de dólares, Cameron escreveu e dirigiu O Exterminador do Futuro, um absoluto triunfo em todas suas facetas, sejam técnicas ou artísticas. Sete anos mais tarde, veio a continuação, onde Cameron expandiu enormemente a abrangência de seu universo, não apenas com um orçamento nada menos do que 15 vezes maior que o anterior, mas principalmente com um rico roteiro que transformou esses dois filmes numa peça mítica. Se o primeiro filme mostrava a transição de uma simples e tola garçonete na mãe que forjou o salvador da humanidade, o segundo mostrava como seu filho passou de delinqüente juvenil ao herói lendário. Mais doze anos se passaram até que a terceira parte fosse produzida, sem nenhuma participação do criador original. Rendeu rios de dinheiro apesar das pesadas críticas dos fãs, mesmo que Cameron tenha dado seu aval à produção depois de pronta. Nela, o fim do mundo se mostra inevitável e John Connor finalmente aceita seu papel de líder da resistência contra as máquinas.


Então uma quarta parte foi anunciada. A primeira sem o grande astro Arnold Schwarzenegger, no momento bastante atarefado governando a Califórnia. Como assim um filme do Exterminador sem o exterminador?? Bom, os filmes nunca foram sobre o exterminador. Foram sobre Sarah, John e Reese. Sobre as pessoas comuns que se tornaram heróis. Terminator: Salvation seria, finalmente, um filme sobre John Connor liderando a resistência. Sobre a guerra que tanto os homens quanto as máquinas tentaram evitar nos filmes anteriores. Sobre como Connor conheceu aquele garoto, mais novo que ele, que deveria ser seu pai, e sobre a força que ele tirava dos conselhos que a mãe gravou em fita cassete quase 35 anos antes.

Não tinha como dar errado.

Mas todos sabemos como projetos maravilhosos podem se transformar em tragédias. Basta escolher o diretor errado, o roteiristas errados e somá-los a um estúdio cheio de más intenções. McG, diretor de videoclipes que ganhou fama com os dois filmes das Panteras, não soava como um nome sério o suficiente para um projeto desse porte. Já os roteiristas John Brancato e Michael Ferris eram uma incógnita. Num extremo, o roteiro do excelente Vidas em Jogo, de David Fincher. No outro, Mulher Gato, filme que dispensa comentários. No meio, o roteiro do próprio Exterminador 3, que tinha defeitos mas era bastante razoável. Qualquer coisa poderia sair dali, portanto. Quanto às intenções do estúdio... bom, é só ver o filme em seus piores momentos.



Inicialmente algo que não deveria ser um problema, é preciso, entretanto, destacar logo de cara a censura do filme. É o primeiro da série com classificação PG-13 (13 anos), enquanto três filmes anteriores foram R (17 anos). Isso amplia o público do filme nos cinemas, nessa época de intensa pirataria virtual. Mas a verdadeira intenção de baixar a censura do filme parece ter sido, simplesmente, a venda de brinquedos. Terminator: Salvation é infestado das mais variadas formas de exterminadores e alguns são veículos quase infantis como o moto-terminator. Quando aparece o “transforminator”, um robô gigante pegando a onda do sucesso infanto-juvenil de Michael Bay, já fica claro que nada mais sério seria possível esperar do filme.

Ok, vamos voltar ao que interessa: os personagens. Christian Bale assume o papel que foi de Nick Stahl no filme anterior, onde interpretou um Connor totalmente equivocado, sendo, sem dúvida, o pior erro do terceiro filme. Desta vez, Bale aposta no que faltou no protagonista anterior: intensidade. Mas tanta, tanta intensidade, que erra a mão e John Connor parece apenas um cara que fica nervoso o tempo todo. Não é só culpa dele. O roteiro não aposta em seu personagem principal. Suas cenas parecem soltas, limitadas ao extremamente essencial para a progressão da história. Pelo menos metade do tempo é dividido com Marcus Wright (Sam Worthington), um assassino condenado em 2003 que acorda no futuro devastado sem ter idéia do que está acontecendo. Conforme conhecemos os reais fatos, percebemos que é um filme com dois protagonistas e a relação forjada entre eles é uma citação muito bem sacada aos filmes anteriores. Diversos outros elementos da história são muito bem pensados, detalhes que parecem furos são explicados de forma muito convincente nos momentos certos, mostrando que Salvation tem, de fato, uma história muito boa. O roteiro, porém é muito mal executado e, afogado no mar de apelações comerciais já citadas, fica ainda mais frágil. Roteiristas e diretor mostram sua reverência aos filmes originais com diálogos, imagens e músicas, com resultados que vão desde o banal até um momento específico que é capaz de fazer qualquer fã dar cambalhotas de alegria no cinema.



Infelizmente, nenhuma de suas qualidades é suficiente para suprir os verdadeiros furos do roteiro ou compensar a pseudo intensidade emocional do filme. Diversos episódios do excelente seriado The Sarah Connor Chronicles dão um banho nesse filme milionário que, apesar de ótimas cenas de ação e efeitos especiais sublimes, não consegue tocar a profundidade dos diálogos e interpretações de, por exemplo, Thomas Dekker, o John Connor de 15 anos perfeito revelado pela série.

Terminator: Salvation é uma história com excelente potencial que se tornou filme frágil, apelativo, barulhento e ralo. McG não possui o menor preparo para lidar com os aspectos dramáticos de um filme que parece mais interessado em vender brinquedos. Não chega a ser inassistível, porque a ação é bastante divertida e a produção é impecável. Mas está longe de ser um herdeiro digno das obras primas de James Cameron.

Nota: 2/5
Terminator: Salvation
Diretor: McG
Roteiristas: John Brancato e Michael Ferris
Com: Chistian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard, Helena Bonham Carter

Um comentário:

Anônimo disse...

Assino embaixo. Ótima crítica.