Por Ricky Nobre
Esta semana foi a estréia mundial da primeira parte da última aventura cinematográfica do bruxo mais famoso (desculpa, Merlin!) do cinema e da literatura: Harry Potter. Em suas grossas 800 páginas, o último livro da saga Harry Potter e as Relíquias da Morte foi dividido em dois filmes, com o segundo a estrear dia 15 de julho de 2011. Verdadeira mina de ouro para editores e produtores, a série de J.K. Rowling pode explicar seu sucesso não apenas no talento da escritora, mas também na sua genialidade ao fazer os personagens crescerem junto com seu público. Assim, a inocente aventura de fantasia do bruxinho de 10 anos se tornou uma violenta guerra pelo poder do mundo mágico nesta parte final.
Já era esperado que o couro comesse solto nesse novo filme e as expectativas elevadas geralmente acabam deixando sensações de decepção. Aqui, porém, contamos não apenas com uma boa história, como também com a inteligência de David Yates, diretor deste e dos dois filmes anteriores da série (foi o mais bem sucedido diretor da série, apesar do desejo do articulista que Afonso Cuarón tivesse retornado). Foi Yates justamente quem ficou encarregado da fase mais sombria da série a partir de A Ordem da Fênix, seguido do Enigma do Príncipe. Estes filmes, porém, mantinham uma unidade com os anteriores (Yates foi o quarto diretor da série) no sentido de que preservava o estilo de cinema de fantasia clássico de Hollywood.
Neste Relíquias da Morte, porém, Yates consegue manter-se à altura das expectativas do público para esta última parte ao investir numa significativa mudança de estilo ao buscar uma abordagem mais realista de filmagem, quase documental. O resultado é muita luz natural e muita câmera na mão, que se concentra na ação dos personagens. Os efeitos especiais não são o centro da atenção, acontecendo na tela de forma extremamente natural, por mais espetaculares que sejam, como que pegos quase que “por acaso” pela câmera do excelente fotógrafo português Eduardo Serra (de Corpo Fechado e Moça com o Brinco de Pérola). Mais que isso, só se fosse permitido a Yates entregar um filme R-rated (17 anos) em vez do PG-13 (13 anos) exigido por contrato para preservar a alta presença de adolescentes nos cinemas. Mesmo assim, o sangue corre (ainda que seco) com mortes, ferimentos, numa guerra onde ninguém está seguro. Desta forma, chega a ser um alívio que a versão 3D não tenha sido preparada a tempo, pois ela destruiria completamente o estilo de filmagem criado por Yates e Serra.
A profusão de personagens que confunde muita gente não familiarizada com a série (mas, afinal, quem vai ver o sétimo filme de uma série sem ter visto os anteriores??) é suavizada com a concentração da ação nos três personagens centrais (Harry, Hermione e Ron), embora praticamente todos apareçam em pequenas participações. Os três vagam durante meses por cantos remotos das terras britânicas tentando não apenas sobreviver à caça dos oficias do Ministério, agora dominado pelos asseclas de Voldemort, mas também encontrar todos os Horcruxes, objetos que encerram partes da alma do vilão, evitando que ele morra definitivamente. Mais que isso, acabam descobrindo o que são as “relíquias da morte” (numa sequência animada genial), que podem ser a chave tanto da vitória quanto da derrota na guerra. O filme investe também em referências a regimes totalitários ao retratar a atual política do Ministério da Magia e o estilo retrô da direção de arte possibilita relações diretas às ditaduras européias do século XX.
No time de colaboradores de Yates, além do fotógrafo Serra, temos a volta do montador Mark Day em sua quarta participação na série e a adição do compositor Alexander Desplat. Apesar do bom trabalho de Nicholas Hooper nos dois filmes mais recentes, Desplat foi capaz de trazer de volta o refinamento musical que a série perdeu com a saída de John Williams após o terceiro filme. Infelizmente, Desplat seguiu o caminho de Patrick Doyle no quarto filme e praticamente ignorou os temas originais de Williams, deixando o filme sem nenhuma ressonância musical que o conectasse aos anteriores.
Enfim, Yates entrega seu terceiro Potter com um final bem depressivo para os heróis, sinalizando tempos ainda mais sombrios para a última parte. Serão sete meses de tortuosa espera para os fãs. Esperamos que atinja as expectativas. A primeira parte, pelo menos, conseguiu.
Enfim, Yates entrega seu terceiro Potter com um final bem depressivo para os heróis, sinalizando tempos ainda mais sombrios para a última parte. Serão sete meses de tortuosa espera para os fãs. Esperamos que atinja as expectativas. A primeira parte, pelo menos, conseguiu.
3 comentários:
Fiquei satisfeito com o filme! Eu implorei aos deuses para Afonso Cuarón retornar à franquia para Deathly Hallows, mas acho que Yates fez um trabalho digno nessa primeira parte. E aquela animação foi... desculpem a palavra, mas foi foda!
Abandonei Harry Potter no terceiro, depois daquele que parecia vídeo game e cuja história não fazia muito sentido. Mas gosto muito da ambientação e da idéia geral do filme e pretendo ver todos antes de ver o sétimo no cinema. Tenho que bater palmas para J. K. Rowling. Poucos escritores conseguem ter tanto sucesso em suas histórias, tanto no papel, quanto na película. Essa veio com bônus da outra vida...
Hehehe, na verdade, Eddie, você se refere ao quarto filme. O terceiro muita gente ainda considera o melhor filme. Vai valer a pena ver todos os oito filmes em seguida.
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