terça-feira, 18 de maio de 2010

ENNIO MORRICONE E BJÖRK: vanguarda e experimentalismo premiados na Suécia.

Por Ricky Nobre

Foram anunciados ontem os vencedores da edição 2010 do Polar Music Prize, considerado o "Nobel da música". O prêmio que já homenageou Gilberto Gil, Pink Floyd e Ravi Shankar, foi criado em 1992 por Stig Andersson, empresário do grupo Abba e fundador do selo musical Polar. A cada ano, dois nomes da música mundial (geralmente um popular e um erudito) são contemplados pelo prêmio, que tem um certo caráter de "conjunto da obra". Neste ano, os contemplados são a compositora e cantora islandesa Björk e o compositor cinematográfico italiano Ennio Morricone.




Segundo a organização do evento, Morricone (aos 82 anos) foi escolhido por suas composições "geniais" que "elevaram nossa existência a outro plano" e "um estilo que marcou o tom da música para o cinema durante meio século".




Björk (44 anos) foi homenageada por sua "marca indelével" na música pop e a cultura moderna com sua música e letras "profundamente pessoais", assim como "nenhum outro músico se movimenta tão livremente entre a vanguarda e o pop".




A escolha desses dois artistas no mesmo evento é bastante simbólica. Ambos podem ser considerados artistas de vanguarda, ainda que tenham não apenas transitado por, mas também influenciando a música pop.



Ennio Morricone, ao mesmo tempo que fazia arranjos para músicas populares italianas na virada da década de 50 para 60, também fazia parte de um grupo de exploração de música de vanguarda, onde todo tipo de objetos eram usado para produzir música, num campo dedicado exclusivamente à experimentação. Todos aqueles sons estranhos e incrivelmente originais que podemos ouvir em suas primeiras trilhas para westerns italianos têm origem nessas experimentações. A extrema beleza de suas melodias se contrapõem a orquestrações heterodóxas e inesperadas. A influência e admiração de músicos populares é evidente. Morricone gravou um disco com Chico Buarque na década de 70 (o raro Per um Pugno di Samba). Pet Shop Boys gravou uma música sua em seu segundo álbum e Metallica não sobe ao palco sem que a platéia ouça Extasy of Gold, do filme Três Homens em Conflito. Nos 450 filmes nos quais trabalhou, Morricone mostrou um compromisso absoluto com os personagens e a história narrada. Seja nos westerns de Sergio Leone, na tragédia de A Missão, nas gargalhadas de A Gaiola das Loucas, na ação de Os Intocáveis, no horror dos filmes de Dario Argento, na tristeza de Lolita, no engajamento de Queimada, no deslumbramento de Cinema Paradiso, Morricone é um tesouro vivo da música e do cinema.


Björk começou cedo. Aos 11 anos já gravou o primeiro disco, sucesso na Islândia, um país onde, por séculos, foi proibido cantar e o povo desenvolveu o hábito de contar histórias numa cadência ritimada, cultura que é uma clara influência no estilo de Björk. Nos anos 80 foi vocalista da banda punk Sugarcubes. Em 1993 gravou seu primeiro album solo. Ao iniciar sua carreira solo, começamos a ver a veia experimentalista de Björk. Cada um dos seus três primeiros álbuns (Debut, Post e Homogenic) são levemente baseados num estilo musical (dance, jazz e techno, respectivamente). A partir do quarto até o sexto e mais recente (Vespertine, Medula e Volta), ela abraçou a experimentação pesada e completamente sem concessões. Medula chegou a ser quase inteiramente gravado com vozes, com alguma ocasional utilização de piano. Por isso, Björk não é exatamente uma artista ouvida pelo público, mas sim ouvida por outros artistas. Produtores e DJs com os quais ela trabalha fatalmente se tornam os preferidos de diversas estrelas pop. Bedtime Stories de Madonna e Pop de U2 não existiram como são se não fosse por ela. E convenhamos que influenciar gente desse calibre com apenas dois albuns lançados não é pra qualquer um.

2 comentários:

Bráulio disse...

Björk é um gênio! Essa mulher tem uma sensibilidade e uma criatividade incríveis...

Seja ao som de uma música dançante como "I Miss You", ou embalado pelo ritmo orgânico de "Ancestors" ou ainda arrebatado por músicas como "Pagan Poetry", é impossível ouvi-la e não se apaixonar - ao menos, eu penso assim...

Levi disse...

Com certeza sou fan de todas as músicas... no momento estou viciado no Vespertine!