terça-feira, 25 de maio de 2010

LOST: O fim de uma era ou o fim da picada?

Por Ricky Nobre

Hurley avisou logo nos primeiros 15 minutos deste episódio final: “Tenho um mal pressentimento sobre isso”, citando a frase presente nos seis filmes da série Star Wars.


Lost acabou! Único herdeiro realmente genuíno de Arquivo X, em ambição, abrangência e sucesso, Lost tinha seu brilhantismo na forma extremamente ousada e talentosa com que subverteu um cânone da narrativa. Geralmente, uma história é guiada pela trama ou pelos personagens. Um ou outro pode se sobressair aqui e ali, mas um deles, necessariamente, dominará toda a estrutura da história. Lost conseguiu a façanha de mostrar uma trama extremamente complexa, abarrotada de perguntas e mistérios e ainda assim mostrava histórias firmemente baseada em seus personagens, todas as semanas. Os fãs se fascinavam e quebravam as cabeças com teorias mirabolantes sobre os milhares de detalhes da trama ao mesmo tempo em que se apaixonavam por, literalmente, dezenas de personagens belos, complexos e críveis.



Sim, a série teve altos e baixos. Os primeiros nove episódios da terceira temporada foram tão chatos que obrigou os criadores a colocarem rapidamente ordem na casa e propósito aos episódios, e a segunda metade foi bem melhor. Isso também gerou um fato inédito implacável indústria televisiva americana. Séries lutam, temporada a temporada (e, às vezes, episódio a episódio) para ficarem no ar e serem aprovadas para o ano seguinte. Pois Lost, após a irregular terceira temporada, programou seu final: seriam mais 48 episódios divididos em mais três temporadas, para que a história pudesse ser desenvolvida de forma correta, bem planejada e com um final de verdade, não algo feito às pressas porque a emissora resolveu cancelar a série faltando três episódios para o fim da temporada. Com isso, era de se esperar uma história cuidadosamente planejada com três anos de antecedência para nada dar errado, certo? Certo? CERTO????



Mas que vida triste essa dos nerds! Vivemos nos apaixonando por séries que terminam mal! O último episódio de Lost desnudou o rei de forma constrangedora.


[SPOILER ON!!!]

As duas realidades paralelas, que caminhavam, até os 47 do segundo tempo, juntinhas para, aparentemente, um objetivo comum, mostraram-se completamente desvinculadas. Na verdade, a realidade paralela não tem nada, NADA a ver com Lost, nem com a linha de tempo, nem com a história, nem com os mistérios, nem com a maldita bomba atômica! De repente, estamos vendo uma adaptação de Violetas na Janela e a melhor série da década vira uma aventurinha cardecista. É tão alienígena à Lost que parece uma fanfic! E se realmente assim o fosse, teria enormes méritos, pois seria uma história muito bem bolada para um fã homenagear a série. A mensagem até que é legalzinha! Todos estavam ali após suas mortes (Hurley e Ben devem ter vivido mais uns 200 ou 300 anos), mas sempre com um peso nos corações imaginando como seriam suas vidas se o avião nunca tivesse caído. E assim eles viveram nessa grande ante-sala do paraíso, até que conseguissem lembrar de suas vidas, aceitarem a vida que tiveram e poderem seguir adiante. Suas vidas, apesar de trágicas, foram significativas pelos laços que criaram uns com os outros e pelos atos de amor que praticaram. Foi interessantíssimo Ben ter se recusado a seguir com os outros por culpa, pois, mesmo se redimindo de seus erros e se tornando o novo Richard da ilha, ele não se julgava digno de sair dali (até em final ruim, Ben é o melhor!) É, bem bonitinho. MAS QUE DIABOS ISSO TEM A VER COM AS GRANDES QUESTÕES DE LOST??? Sendo bastante honesto, essa trama nada mais é do uma reciclagem new age de uma velha teoria da internet de que todos estavam mortos na ilha de que aquilo era o purgatório (ou o inferno, sei lá).


[SPOILER OFF!!!!]


A VERDADE É QUE: JJ Abrams não tinha revelações tão bombásticas quanto ele gostaria e quanto ele julgava que os fãs esperavam. Ele então, malandramente, criou um mistério exclusivo da sexta temporada e esperou que a bombástica revelação final desse mistério pudesse passar pela bombástica revelação da série. Surpresa! NÃO FUNCIONOU! Se as respostas não eram tão fantásticas e as revelações não tão bombásticas, mais honesto seria se ele simplesmente ESCREVESSE BEM com o que tinha. Mas ele preferiu um artifício desonesto, tirado do nada, para tentar dar aquela sensação de OOOOOHHHH na cena final.


Sem entrar no mérito de coisas que não batem muito bem no mundo paralelo (o que me faz tremer de horror com a possibilidade do Abrahams ter começado a sexta temporada sequer sabendo ainda como ia terminar), o final de Lost parecia final de outra séria, não a da que estávamos vendo há seis anos. Entendo que a pressão era gigantesca e que Abrahams pode ter se desesperado por não ter o final bombástico que todos estavam esperando. Mas não justifica um erro dessa proporção.


Para encerrar, um fato curioso: um amigo meu, que gostou muito do final, destacou que as “pessoas de ciência” detestariam o final, mas as “pessoas de fé” são as que gostariam. No Twitter e em outros cantos da internet, vi referências a essa mesma divisão para definir os times dos que amaram ou odiaram o final. Eu gostaria de dizer algo sobre as “pessoas de fé”. Pessoas de fé assinaram TV a cabo. Pessoas de fé baixavam religiosamente os episódios dos torrents, compravam DVDs a preços astronômicos, e recompravam tudo em Bluray a preços exorbitantes! As pessoas de fé encheram o precioso do Sr. J. J. Abrams de dinheiro, todos na mais profunda e inabalável fé de que ele sabia o que estava fazendo! As pessoas de fé foram traídas.

8 comentários:

Gabriel Cordeiro disse...

E ai, Ricky! Gostei da sua resenha do Finalle de Lost, e concordo com grande parte!Me senti um pouco enganado tb, mas desde que os produtores colocaram esses flashsideways eu ja esperava um término muito nada a ver... porque mesmo dentro das suas "viagens" Lost tinha alguma coerência, o que não aconteceu nessa 6ª temporada,pq esses sideways não batiam com uma possível explosão da bomba em 1977.
Então, comecei a encarar essa sexta temporada como um caso a parte, me interessando somente pelo desfecho dos personagens do 815... e gostei das resoluções da Ilha, me conformei com as explicações banais pra grandes mistérios e esperei somente o entretenimento, portanto gostei do final.
Porém, como ja tinha dito, concordo com vc que fomos enganados e mereciamos MUITO mais desse final! :P

Patrícia Balan disse...

Sou uma pessoa de fé e sempre fui, mas nunca estudei o kardecismo, minha fé é outra. Aí é que está! Sou lourinha e ainda estou confusa, mas pelo que pedi para o Ricky me explicar pelo telefone, acho que os roteiristas de Lost podem ter DIRECIONADO o sentido do final para uma lógica, quando a lógica da série inteira foi outra. De mistério, realismo fantástico e surrealismo, passamos para uma lição sobre a vida de uma maneira parcial.
Bom. Me diverti. Não é a primeira vez que isso acontece e não se pode, nem que a vaca espirre, tirar o mérito de Lost como entretenimento. Vou sentir muitas saudades, mas muitas saudades mesmo do Vincent, mesmo sabendo que ele é uma fêmea.

Carlos Shokozug disse...

Me senti traido, sim! O final de Lost não foi nem de longe, o que esperava. Apesar de nunca saber o que esperar de Lost. E essa era toda a graça da serie. Agora esse papo de "Eu estou morto?" Pelo amor de Shim'tar !!! Essa foi demais!! Tive a sensação de estar vendo o misterioso episodio final da Caverna do Dragão. Concordo que nada vai retirar o merito de grande entretenimento de Lost, mas esse final foi dose. Muito melhor o resumo que passou antes.

Renato Rodrigues disse...

Diário de bordo, sexta feira 1:30 da manhã:
Terminamos de ver aqui há um hora mais ou menos o último episódio gravado e fomos fazer a mala do Kodama que nem zumbis... Confusos e desorientados, um misto de "Já tenho saudade de Lost" com "Mas que raios foi isso que eu acabei de ver???".

À luz do comentário do Ricky pude ver o que me incomodou. Foi o final espírita (que foi "bonitinho mas ordinário") totalmente na contramão do resto da série. Sou um homem de ciência e sem fé em mais porra nenhuma e nem em ninguém... e agora mais ainda. Ainda foi uma das melhores séries que já vi, mas tropeçou no último episódio.

luzia disse...

lost sempre foi confuso pra mim ...
tentei gosta da serie mais sabia que no fim eu estaria quase certa eles nos daria a opiçao de a ilha exitir ou a gente acretidar que era um pos morte bem esquisito...fica a criterio de cada um...seria mais intereçante se fosse tudo culpa dos aliens e ñ um fim bonitinho onde todos morrera um dia...dãã....e se encotraria pra ir pra sabem se la onde...prefiro acretidar que tudo foi uma confução pos morte e que isso tava obvio no primeiro episodio quando o avião caiu ...e eles ñ queria aceitar...
a unica coisa que vou ter certeza e que nunca mais vou ver lost ...

Kal J. Moon disse...

Lembrem-se de uma das falas do primeiro episódio: "Estamos mortos há 15 minutos e o mundo ainda não sabe..."

Eddie disse...

Você sabe quando a coisa não foi boa quando um final que você mesmo bola é infinitamente melhor do que o final original. Renato, um excelente DM, terminaria maravilhosamente bem. Se nós, reles mortais que lutam para pagar as contas, conseguimos pensar nisso sem dedicação de 24 horas por dia. COMO o roteirista de Lost, que ganha pra isso e deveria dar alguma atenção a isso, não conseguiu o que nós conseguimos em poucos minutos? Fiquei realmente desapontada com a série, e olha que sou uma pessoa de fé! O final Violetas na Janela, como citou o Ricky, não foi ruim, mas já fizeram um milhão de vezes no cinema, não sendo assim, nenhuma novidade. Além do mais, não tinha nada a ver com a trama da ilha, que ficou à deriva, literalmente. Aquele final bonitinho podia ser o final de qualquer coisa! Qualquer série poderia usar aquele final, tanto quanto Dallas usou o artifício de uma temporada inteira ter sido apenas um sonho da personagem Pamela. Agora, eu não esperava muito, então não saí chutando parede. Pra mim, não é um final que compromete a série, que ainda acho brilhante e bem escrita. E eu já tinha tentado parar de desvendar os mitérios no início da temporada, quando continuavam aparecendo mais perguntas que respostas. Passei a curtir a viagem e apreciar a paisagem. Ainda veria Lost de novo, ainda teria os DVDs. Enfim, foi um final porcaria, mas não um final Berserker, aquele desenho horroroso que fez o Renato e eu mordermos parede. De certa forma, sinto-me vingada, já que foi o Ricky quem me emprestou aquela porcaria e justamente ele ficou indignado com o fim de Lost! Ah, a Justiça Divina... Ela tarda, mas não falha...

priscila disse...

Eu gostei muitíssimo da série mas esperava beeeem mais!
Como assim não tem nada a ver com aliens?
Ou com algo parecido com matrix...?
Esse finalzinho grudento e todo meloso de paraíso e vida depois da vida não deixa ninguém satisfeito.Acredito em reencarnação, mas não sou espírita.E mesmo se fosse, esse final nós já vimo inúmeras vezes.Eu já cansei de saber que o cara está morto o tempo todo desde o dia em que olhei O Sexto Sentido.E isso faz tempo!!
Entretento, foi uma ótima série, e me fez quase quebrar a cabeça com mil possibilidades mirabolantes muito melhores que a que foi escolhida por quem escreveu aquela lambança toda.Ainda amo Lost!